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Com o tema: “Revivência Kaingang: Honra aos ancestrais”, encontro de lideranças indígenas acontece em Iraí/RS

Com o tema: “Revivência Kaingang: Honra aos ancestrais”, encontro de lideranças indígenas acontece em Iraí/RS

Claudia Weinman
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Lideranças indígenas de diversas comunidades Kaingang do norte do Rio Grande do Sul reuniram-se, de 10 a 12 de agosto, na Terra Indígena Iraí, para fazer memória aos lutadores indígenas Nelson Xangrê e Augusto Ópe, além de outros/as guerreiros e guerreiras que se ancestralizaram. Tendo como tema “Revivência Kaingang: Honra aos ancestrais”, reflexões sobre a luta dos povos indígenas do Brasil e a conjuntura guiaram o encontro.

Encontro aconteceu entre os dias 10 a 12 de agosto, na Terra Indígena Iraí. Foto: Ivan Cesar Cima.

Luís Salvador, Cacique da Terra Indígena Rio dos Índios, mencionou a importância das lideranças indígenas denunciarem as políticas de morte, especialmente as que se referem ao agronegócio brasileiro e de cultivarem a sabedoria ancestral como projeto de vida para as gerações do agora e do futuro. “O agronegócio não mata a fome do nosso povo, por isso é importante que tenhamos as nossas rocinhas, ter a consciência do que representa a mãe terra para os povos indígenas. Neste momento de muita tensão, precisamos pensar nos novos rumos, o planeta precisa dos povos indígenas”, disse.

Momentos de reflexão, danças e rituais guiaram o encontro. Foto: Ivan Cesar Cima.

O Cacique contou ainda que durante o encontro em Iraí, as lideranças evidenciaram o nome dos representantes políticos que não são favoráveis aos povos indígenas. “Lembramos daqueles que estão no Congresso Nacional, atuando contra os povos. Esse foi um momento de emoção e tomada de consciência, pois muitas vezes os povos têm votado naqueles políticos genocidas”.

Falas foram feitas em homenagem aos encantados e de reflexão sobre a conjuntura brasileira. Foto: Ivan Cesar Cima.

Nelson Xangrê e Augusto Ópe

Pilares do movimento de retomada dos territórios invadidos, Nelson Xangrê e Augusto da Silva, além de outros lutadores indígenas como Ângelo Kretã , foram lembrados durante o encontro em Iraí. Sandro Tupē da Silva, filho de Augusto Ópe fez memória aos guerreiros e também destacou a importância das mulheres, especialmente de sua mãe, Lurdes, responsável por construir as condições concretas para que Augusto pudesse estar nos espaços de articulação na luta pela terra e vida dos povos indígenas no Sul do Brasil. “Nessa luta quem esteve presente foi a dona Lurdes, a mãe, que sempre ajudou ele na caminhada, nas lutas, apesar das dificuldades que a família tinha, sempre tomou conta da casa, das crianças, de nós, aconselhando, orientando. O pai levava os artesanatos, às vezes vendia, por vezes não vendia. A mãe teve a garra, pois ele (pai) ficava quinze, vinte dias fora, ela buscava cipó, mesmo correndo perigo, pois os brancos não querem que entre pegar os materiais na mata, mas ela se arriscava, eu era pequeno, ela me levava pra coletar matéria-prima para fazer artesanato”.

Ouça o depoimento de Sandro Tupē da Silva na íntegra:

 

Ivan Cesar Cima, da Coordenação Colegiada do Cimi Sul – Conselho Indigenista Missionário destacou também a força das lideranças indígenas que, articuladas, em pleno contexto da Ditadura Militar, momento em que todos os povos estavam sendo violados e os indígenas escravizados, moviam forças para barrar as políticas de morte da época. Nelson Xangrê, assim como outros líderes indígenas, representam um simbolismo importante, segundo o indigenista, para os enfrentamentos das políticas anti-indígenas até hoje. “O encontro em Iraí teve essa homenagem aos ancestrais que se encantaram, no sentido de refletir sobre o momento em que os povos vivem. No decorrer dos três dias se refletiu muito e com seriedade, a necessidade da articulação das comunidades indígenas da região reforçar o processo de retomada e mobilização, diante de tudo aquilo que está ocasionando a desterritorialização dos povos, devido à prática de governo, do agronegócio e demais agentes que agem por detrás da política de invasão dos territórios. Falou-se muito sobre a precariedade do atendimento à saúde indígena e quais iniciativas são importantes para a mudança dessa realidade”.

Homenagem aos encantados

Em julho de 2020, os povos indígenas perderam uma das lideranças importantes na luta pela terra. Nelson Xangrê encantou, após sofrer um infarto aos 74 anos, em sua casa, na Terra Indígena (TI) Iraí, norte do estado. Naquele momento, o Conselho Indigenista Missionário divulgou uma nota de solidariedade fazendo referência à importância história da liderança.

O mundo perde um homem que ajudou a reconquistar terras indígenas entregues pelo estado às empresas de colonização, a combater a política indigenista assimilacionista da Ditadura Militar, a articular o movimento indígena de resistência contra o colonialismo criminoso que se instalava no Sul do Brasil e, também, a criar caminhos para a consolidação do direito à terra como originário, tradicional e imprescritível. Seu testemunho e liderança, no final da década de 1970 e início dos anos 1980, transformaram a configuração fundiária do Rio Grande do Sul. Ele e seu grupo de lideranças articularam e fizeram a desocupação da TI de Nonoai, retomando aquilo que parecia já perdido, suas terras tradicionais. Nelson Xangrê, junto a outros líderes de seu povo, como Ângelo Kretã e Augusto da Silva, consolidou o mais importante movimento de luta dos povos contra o genocídio indígena e pela retomada das terras, na década de 1970, através da articulação das grandes Assembleias Indígenas. Foi neste movimento que a luta Kaingang atingiu abrangência nacional, ao articular-se também com as batalhas travadas por outros povos, ao lado de figuras históricas como Marçal de Souza Tupã-Y, Xako’iapari Marcos Tapirapé e Xywaeri José Pio Tapirapé. Xangrê foi líder e estrategista do povo no enfrentamento aos militares, aos arrendamentos e ao saque das terras”.

Conheça a história de três importantes lideranças indígenas do Sul do Brasil:

Nota em memória de Nelson Xangrê

Angelo Kretã

AUGUSTO ÓPẼ DA SILVA KAINGANG: PRESENTE! | Espaço Ameríndio (ufrgs.br)

Lutas

Durante o encontro em Iraí, também ocorreu a divulgação do 4° Acampamento Terra Livre – ATL Região Sul, que acontecerá entre os dias 04 a 07 de setembro, na Terra Indígena Toldo Chimbangue, município de Chapecó, em Santa Catarina. O local do acampamento será a Escola Indígena de Ensino Fundamental Fen’nó. O encontro terá como tema: Descolonizando Territórios: “A voz e a visibilidade dos povos originários”. São esperamos todos os povos originários da região Sul.

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Saiba mais na página da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil:

Confira mais imagens do encontro em Iraí: