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50 ANOS DA DIOCESE DE REGISTRO: o compromisso com a vida dos povos originários

50 ANOS DA DIOCESE DE REGISTRO: o compromisso com a vida dos povos originários

Cimi Sul
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O Cimi, Conselho Indigenista Missionário, celebra os 50 Anos da Diocese de Registro. Ao mesmo tempo, faz memória e agradece o apoio dado a todas/os missionárias e missionários que compuseram desde 1979 a equipe do Regional Sul do Cimi. Equipe que atuou e atua, entre outras regiões,  no Vale do Ribeira junto aos povos Guarani e Tupi-Guarani.

Desde o início pudemos contar com o efetivo apoio da Diocese que teve como primeiro pastor nosso saudoso Dom Apparecido José Dias. Anos depois, Dom Apparecido foi eleito presidente do Cimi por dois mandatos consecutivos entre 1991 e 1999. Assumiu também neste tempo, 1996 até seu falecimento em 2004, a desafiadora missão de ser o segundo Bispo da Diocese de Roraima (substituindo Dom Aldo Mogiano), aceitando entre outros serviços, ser presença atuante e solidária junto aos povos indígenas na região. Estes povos viviam em situação de grande conflito em razão da luta pela demarcação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol.

Em 1979 passamos a contar com o apoio mensal para o sustento do trabalho da Equipe com Dom Apparecido (juntamente com Dom Davi Picão – Diocese de Santos, Dom Mauro Morelli – Diocese de Santo Amaro, região de atuação da nossa equipe). Contamos com esta ajuda ainda com Dom José Luis Bertanha, segundo bispo de Registro. Quando não foi mais possível, a Diocese continuou contribuindo com o Cimi cedendo uma sala para escritório da Equipe, próxima à Catedral, em Registro. Mais recentemente, Dom Manoel, atual pastor da Igreja de Registro, cedeu em comodato, uma propriedade da Diocese para moradia e escritório do Cimi no município de Jacupiranga. Importante acrescentar que desde 1979 até 2024, sempre que os Guarani precisaram, a Diocese, seja através das paróquias onde estão localizadas comunidades Guarani, seja diretamente da Cúria, contribuiu com alimentação e logística para reuniões e encontros desses indígenas, seja quando eram realizados nas próprias aldeias, seja recebendo-os no Centro de Formação Diocesano – CFD de Registro. Somos imensamente gratos.

Queremos lembrar também as visitas feitas aos indígenas por leigos/as, religiosos/as, padres e bispos às comunidades, enfatizando a importância do estar junto como uma das formas de ser “Igreja em Saída”, atendendo à convocação de nosso estimado Papa Francisco. Como exemplo, trazemos presente a passagem de Dom José Luis e Dom Manoel em duas grandes Assembleias do povo Guarani em nível de Brasil: uma em 2004 na Aldeia Pindoty em Pariquera-Açú, outra em 2023 na aldeia Taquari, em Eldorado.

A primeira missão do Cimi na Diocese de Registro aconteceu na Paróquia de Itariri, no acompanhamento aos Guarani da Serra dos Itatins-Cabeceira do Rio do Azeite. O falecido cacique Verá Kuxu’í, também conhecido por Antônio Branco, era uma forte liderança religiosa entre seu povo. Seu primeiro pedido foi que ajudássemos para que a terra que lhes foi deixada pelos antepassados fosse demarcada pela FUNAI, Fundação Nacional do Índio, hoje chamada Fundação Nacional dos Povos Indígenas. Era a Boa Nova que pedia, fosse anunciada. Em 1986 iniciou-se a demarcação dessa terra Indígena.

Hoje, as diversas comunidades Guarani e Tupi-Guarani espalhadas pelo Vale, continuam o seu caminhar, o Guata Porã enfrentando o desafio pela demarcação das suas terras. Mais organizadas, seguem fortalecem a posse e o cuidado com seus territórios, com esperança de esperançar, que vários procedimentos de demarcação paralisados nas instâncias governamentais sejam retomados.

Nos tempos de 1979 a 1987 contamos com a valiosa colaboração de padres na Diocese. Lembro aqui, com especial gratidão, o padre da paróquia de Itariri que tantas vezes abriu a porta de sua casa para receber a Equipe do Cimi, bem como aos indígenas. O mesmo em relação ao Pe. Brasílio, nos idos dos anos 2000 na Paróquia de Sete Barras. Recordando que este amigo já era presente na época de Dom Apparecido e hoje temos a alegria de com ele estar celebrando 50 anos da Diocese.

Não poderíamos deixar de mencionar a valorosa contribuição das Irmãs Pastorinhas, Ângela e Sueli, que desde a Paróquia de Eldorado contribuíam com a articulação entre os Guarani, Quilombolas e a população ameaçada por projeto de construção de barragem no Rio Ribeira de Iguape.  Numa perspectiva de ação pastoral de conjunto, trabalhamos pela articulação  do movimento indígena com as comunidades Quilombolas – no Eaacone e Movimento dos Ameaçados por Barragem, MOAB.

Recordar a Pastoral da Criança, que por vezes se fez e se faz presente em algumas comunidades, cuidando com prática da medicina preventiva e alternativa com a saúde das alegres crianças Guarani. Em nome de Maria Luísa, coordenadora da Pastoral na época de Dom José Luís, agradecemos. Lembrar com carinho dos serviços prestados pela leiga Selma, Paróquia de Iguape, Irmã Brígida na Paróquia de Cananéia, Pe. Brasílio na Paróquia de Sete Barras, em suas idas e vindas enquanto Pastoral Indigenista (e/ou outras) animada pelos coordenadores desta pastoral. Agradecemos a todos/as que assumiram este serviço nas pessoas dos padres Fernando (Registro), Pe. Vítor (Cananéia) nos primeiros anos da década de 2000 e, mais recentemente, Pe. Roberto (Jacupiranga) e Pe. Ary (Cananéia). Temos contado também com a ajuda da recém-criada Comissão Justiça e Paz – CJP da Diocese de Registro (a qual o Cimi, convidado, passou a integrar). Lembramos a recente contribuição (abril/24) da CJP com alimentação no Encontro Guarani das comunidades da região sobre a situação do atendimento à saúde.

Muito mais teríamos a fazer memória da caminhada conjunta da Diocese de Registro/Cimi no serviço comprometido com a vida dos povos indígenas, tendo como eixo central desde 1979, a defesa e garantia dos direitos fundamentais dos Guarani e Tupi-Guarani às suas terras objetivando que tenham vida e vida em abundância. Em conjunto com a Igreja de Registro, queremos seguir por construir a Sociedade do Bem-Viver/Com-vivendo – o Teko Porã no Crer, Dizer e Ser Guarani.

Com o pouco que fizemos memória, deixar um gostinho de “quero mais”, o suficiente para seguirmos despertando, fortalecendo o compromisso com a caminhada de Ser Igreja em Saída! Aprendendo que tudo está interligado, praticarmos a Ecologia Integral. Seguir, nos ajudando com a filosofia guarani do Ser Pertença à Nossa Mãe Terra, à Nossa Casa Comum. Somos todos irmãos e irmãs! Somos todos Parentes! Aprendendo e ensinando nova lição em mutirão pela construção do Reino de Deus aqui na Terra.

Amém.

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Aguyjevete.

Amanda, Ricardo e Jussara

Equipe Vale do Ribeira

Regional Sul do Cimi

Abril de 2024.