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Apagam o colorido do muro, nasce o movimento LGBTQIA+ em Pinhalzinho/SC

Apagam o colorido do muro, nasce o movimento LGBTQIA+ em Pinhalzinho/SC

Claudia Weinman
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O Brasil é um dos países que mais mata pessoas LGBTQIA+. Dados do observatório  de Mortes e Violências Contra LGBTI+ divulgado pouco antes do Internacional de Combate à LGBTFobia, 17 de maio, apontam que um LGBTQIA+ foi assassinado a cada 27 horas no país. O cenário de violência se amplia e na primeira semana de julho, temos mais um exemplo cruel para elevar o índice desse relatório. O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no estado Paraíba, abriu a semana denunciando o assassinato de Severino Bernardo da Silva, conhecido como Suzy (Gay Sem Terra) que residia no pré-Assentamento Vanderlei Caixe, localizado no município de Pedras de Fogo, na Paraíba. Segundo o movimento, o corpo foi encontrado na segunda-feira (04/07), em sua residência, “com sinais brutais de violência e ódio por todo o corpo”.

O discurso de ódio contra a população LGBTQIA+ também preenche os índices, como é o caso do que está acontecendo no município de Pinhalzinho, no interior de Santa Catarina. Em uma ação de defesa à diversidade, marcando o Dia Mundial do Orgulho LGBTQIA+, celebrado no dia 28 de junho, o Leo Clube Ômega de Pinhalzinho realizou a pintura de um muro entre a Avenida São Paulo com a Rua São Luiz, com as cores que representam a bandeira LGBTQIA+.

Conservadores da cidade não aceitaram o colorido da diversidade expressada nas cores da bandeira LGBTQIA+.

 

Henrique Rodrigues/Foto: Arquivo Pessoal.

Pouco tempo depois, segundo Henrique Rodrigues, que se apresenta como jovem liderança do município de Pinhalzinho, e que assumiu a Câmara de Vereadores por dois meses pelo Partido dos Trabalhadores, forças conservadoras teriam solicitado a repintura do local com a cor cinza. “Foi uma homenagem pelo dia do orgulho LGBT, com a pintura do muro, e a partir de então surgiram os ataques dos conservadores pedindo para os vereadores e demais lideranças para que se posicionassem, usando o argumento de que ‘a família tradicional também é amor’. Os vereadores inclusive disseram que entendem a diversidade. No entanto, com a forte pressão, o dono do terreno pediu para que o Leo Clube Ômega pintasse novamente o muro pois as cores estavam incomodando os conservadores da cidade”, explicou.

 

Primeira Parada LGBTQIA+ de Pinhalzinho

A partir dessa ofensiva, Henrique detalhou que está surgindo em Pinhalzinho o movimento LGBTQIA+. “Criamos um movimento em Pinhalzinho e muitas pessoas estão oferecendo os muros de suas residências para serem coloridos. Estamos organizando junto a União Nacional LGBT Chapecó (UNA Chapecó), a primeira parada LGBT do município. Nos próximos dias haverá mobilização como forma de resistência, de mostrar que a população LGBTQIA+ resiste, tem direito de amar e de ser respeitada, sendo também considerada uma família, que tem amor e merece respeito e carinho”.

No cartaz de divulgação do ato do dia 16, a organização da mobilização faz uma homenagem à jovem Letícia Kappaun, que faleceu em um grave acidente de trânsito em setembro de 2021. Letícia era uma das representações da UNA em Pinhalzinho.

Em nota, a União Nacional LGBT Chapecó (UNA Chapecó), que no dia 26 de junho colocou mais de seis mil pessoas nas ruas do Oeste Catarinense em defesa da diversidade, declarou apoio ao movimento que é ainda nascente em Pinhalzinho.

No texto, a UNA escreve:

A UNA LGBT fração Chapecó vem a público manifestar repúdio a notificação que motivou a pintura do muro feito pelo LEO Clube Ômega Pinhalzinho. Entendemos que tal notificação foi motivada por pressão da ala conservadora da cidade, que agiu de forma preconceituosa, coagindo a ação de visibilidade efetivada pelos jovens do Lions de Pinhalzinho. É mais que significativo, ao final do mês do orgulho LGBTQIA+, um muro com as cores da bandeira LGBT e a frase “amor é amor”, ser pintado de cinza, ao passo que isso é uma forma de violência a nós, população LGBTQIA+, que por inúmeras vezes é apagada, invisibilizada e violentada sem qualquer justificativa. Nos solidarizamos com toda a população LGBTQIA+ de Pinhalzinho, bem como com a equipe do LEO Clube Ômega Pinhalzinho responsável pela ação. Ficamos à disposição da população LBGTQIA+ do município para toda e qualquer ação que garanta a luta e a visibilidade da nossa população. A UNA é pra lutar, por mais direitos e liberdade de amar.

Interior conservador 

Em 2021, no município próximo de Pinhalzinho, São Miguel do Oeste, a Câmara de Vereadores rejeitou por maioria, o Projeto de Lei 58/2021, de autoria da Vereadora Maria Tereza Capra (PT), que institui o “Dia de Luta contra LGBTfobia” no município. O projeto prevê que a data será lembrada anualmente em 17 de maio, quando o município deverá promover atividades para conscientização, prevenção, orientação e combate à LGBTfobia.

O projeto naquele momento foi rejeitado por 7 votos a 6 em sessão por videoconferência. Votaram a favor as/os vereadoras/es Maria Tereza Capra, Cris Zanatta, Carlos Agostini, Gilmar Baldissera, Moacir Fiorini e Valnir Scharnoski. Foram contrários ao projeto os vereadores: Elói Bortolotti, Marli da Rosa, Paulo Drumm, Ravier Centenaro, Vagner Passos e Vilmar Bonora. Com o empate em 6 a 6, coube ao presidente Vanirto Conrad desempatar. Vanirto votou contrário e, com isso, o projeto foi rejeitado em primeira votação.
Via: Câmara dos Vereadores de São Miguel do Oeste.

No entanto, a Vereadora Maria Tereza Capra segue com a pauta em favor da diversidade:

             

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