O Dia Delas
E precisaríamos de um dia somente para elas, não seria, por merecimento e direito, todos os dias?
Talvez! Não fossem eles a imporem a elas os seus interesses, desejos, privilégios, vantagens, modos e costumes de dominação e subordinação.
Talvez, não fosse a força bruta do patriarcado intolerante, do machismo dominante e do persistente pensamento depreciativo do feminino.
Talvez, de fato, não necessitaríamos de um dia para lembrarmo-nos delas, já que, sem elas, não haveria pai, nem filhos e filhas, não seríamos todas, todos e todis.
Talvez, não houvesse a necessidade de um oito de março para entregar flores, dar abraços, proferir expressões de admiração e fazer declarações de amor.
Talvez, não precisássemos de um oito de março para lembrar, estimular, gestar e fazer nascer outros dias, com respeito, partilha, justiça, igualdade, solidariedade.
Talvez, o oito de março tenha sido forjado – nas lutas e resistências – para nos comprometer com o tempo futuro, com os dias de superação das dores, dos males da ambição e dos preconceitos.
Talvez, esse oito de março possa marcar o começo de um fim de toda intolerância, de abuso e violência sexual, do racismo, das variadas formas de opressão e exploração dos corpos das mulheres.
Talvez, o oito de março, não se constitua mais numa data só de homenagens, nem o ponto fora da curva, mas esteja aí, no calendário da vida, a nos mostrar um novo amanhecer.
Porto Alegre, 08 de março de 2023.
Roberto Liebgott – Esposo de uma mulher que não se cala e pai de uma mulher lésbica e militante.
Roberto Antônio Liebgott é missionário do CIMI - Conselho Indigenista Missionário, atuando na região Sul do Brasil.