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Reforma Agrária Popular no norte do Paraná: um encontro com encantamentos na mística centrada no papel da mulher Sem Terra

Reforma Agrária Popular no norte do Paraná: um encontro com encantamentos na mística centrada no papel da mulher Sem Terra

Victória Jandira Bueno
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Atividade de fundação da Cooperativa COPRARI. Foto: Filipe Barbosa de Lima
Atividade de fundação da Cooperativa COPRARI. Foto: Filipe Barbosa de LimaNo último dia 2 de maio de 2022, foi realizada a fundação da cooperativa COPRARI, no Acampamento Fidel Castro, em Centenário do Sul. Além de uma data histórica para o movimento, a ocasião registrou a volta da primeira grande atividade do MST no Norte do Paraná, pós pandemia.

O início das atividades do Seminário Cooperação e Desenvolvimento Regional: MST e COPRARI, foi marcado pela acolhida e mística das mulheres. A performance até o palco principal se deu com a entrada das camponesas empunhando suas bandeiras de luta e ferramentas de trabalho. Nutridas de indignação, mística, força e rebeldia, as mulheres camponesas denunciaram violências estruturantes e apontaram um caminho de resistência através da luta pela terra, pelo trabalho e pelo direito de existir.

Atividade de fundação da Cooperativa COPRARI. Foto: Filipe Barbosa de Lima

A luta das mulheres camponesas ultrapassa simbologias e adquire posições políticas através de um feminismo que brota da terra. Os desafios apontados perpassam desde o enfrentamento do agronegócio e da mercantilização das vidas, até as diversas formas de privatização, seja dos corpos ou da natureza.

A dinâmica proposta pelas mulheres sem terra convidou à um exercício de alimentar a mística a partir da memória social das resistências, fazendo dos relatos e das recordações um instrumento de resistência capaz de intensificar a busca pela visibilização do envolvimento de mulheres em lutas populares.

A participação do professor Nilson Cesar Fraga foi marcada por sua sensibilidade e potência de fala, levaram a desdobramentos inesperados e surpreendentes, como o caso da Dona Elizabete.

Atividade de fundação da Cooperativa COPRARI. Foto: Filipe Barbosa de Lima

Mulher e mãe, que após seu primeiro contato e experiência direta com o movimento, ressignificou não só a luta pela terra, mas também sua história de vida. O resgate de fatos e vivências, sobretudo, àquelas ligadas ao seu pai, Antônio, levaram-na a se tornar uma camponesa sem terra aos 61 anos. Hoje aos 69 anos, Elizabete relembra com orgulho e emoção a trajetória de seu pai, essa, que desde o início esteve marcada pela resistência ao mundo das injustiças, que fora tão forte na recolonização tardia do Norte paranaense.

Elizabete tem participado ativamente na luta pela terra, defendendo a Reforma Agrária Popular e a soberania alimentar, e relata, que hoje, após 8 anos como acampada, espera pelo dia em que sua terra seja, enfim, reconhecida, e que ela alcance o almejado sonho se se tornar uma mulher assentadas.

Atividade de fundação da Cooperativa COPRARI. Foto: Filipe Barbosa de Lima

Como expressão de força e resistência, Elizabete também é exemplo do protagonismo das mulheres na luta pelo acesso à terra e pela Reforma Agrária. A mobilização popular contra a opressão machista e capitalista nos relembra a necessidade de apostar em uma nova política de transformações radicais, protagonizada por mulheres enquanto sujeitos políticos atuantes e propositoras de novas formas de pensar e fazer política – na luta por um mundo melhor e mais justo para todas as pessoas.

 

 

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Victória Jandira Bueno, é Bolsista de Iniciação Científica pela Fundação Araucária, no Laboratório de Geografia, Território Meio Ambiente e Conflito – GEOTMAC/UEL, pelo Programa Institucional de Apoio à Inclusão Social, Pesquisa e Extensão Universitária – PIBIS 2021/FA. Estudante do Curso de Geografia da Universidade Estadual de Londrina. E-mail: [email protected]