Nota pública da Comunidade Mbya Guarani, Tekoá Karandaty, Cachoeirinha/RS, sobre o projeto de emenda parlamentar do Deputado Miguel Rossetto
Nós, Mbya Guarani da Tekoá Karandaty, município de Cachoeirinha, Rio Grande do Sul, recebemos com grande preocupação – e até com certa incredulidade – a notícia de que o deputado estadual Miguel Rossetto está articulando, sem nos procurar para dialogar, uma emenda orçamentária de cinquenta milhões de reais para criar, no Mato do Júlio, exatamente onde vivemos, um parque ecológico destinado ao lazer da população de Cachoeirinha.
Antes de mais nada, queremos afirmar que o Mato do Júlio é uma terra reivindicada por nossa comunidade. Estamos requerendo a demarcação da área como tradicional. A Funai já está realizando estudos e levantamentos preliminares acerca dessa demanda.

Em nossa Tekoá vivem 21 famílias. Temos nossos animais, nossas roças, e funciona aqui uma escola onde nossas crianças estudam em educação escolar bilíngue, com currículo e metodologia diferenciados.
Temos muitos amigos em Cachoeirinha. Há dezenas de ambientalistas que nos visitam e nos apoiam, porque estamos protegendo esse espaço que, não fosse por nossa presença, já teria sido entregue aos donos de imobiliárias que desejam construir condomínios exatamente onde estamos. Somos os guardiões deste lugar — e não alguns políticos que pretendem tirar proveito do tema ambiental visando candidaturas futuras.


Causa-nos estranheza o fato de o deputado não ter informações sobre nossa Tekoá. Os vereadores da cidade, inclusive os do partido do deputado, nos conhecem, sabem de nossa existência, de nossa luta e de nossas demandas. Ou seja, para discutir projetos para o Mato do Júlio, nós, Mbya Guarani, deveríamos ter sido consultados. A Convenção 169 da OIT garante esse direito, que precisa ser compreendido e respeitado pelo deputado e por seus apoiadores em Cachoeirinha.

Soubemos que estão organizando audiências públicas para tratar do projeto do deputado e isso nos causa profunda indignação, porque insiste-se em desrespeitar nossos direitos. Estamos aqui, vivemos aqui, e parece que somos invisíveis, como se fôssemos pessoas sem direitos.
Já informamos a Funai sobre esse projeto e, por meio desta nota pública, denunciamos o fato ao Ministério Público Federal, porque não aceitaremos calados as injustiças contra nossos direitos, contra nossas vidas e contra nossas terras.
Cachoeirinha (RS), 10 de novembro de 2025.
Tekoá Karandaty
Cacique Kuaray Luciano Acosta
