Apafec: 20 anos contados em livro
Na jornada cabocla Chica Pelega, que aconteceu de 02 a 08 de fevereiro desse ano, uma das transmissões ao vivo considerou o tema da construção do projeto “Esporte Bem Legal” e o surgimento da Apafec. Nas palavras dos educadores Emerson Souza, Jilson Carlos Souza e da companheira que integra a coordenação dessa entidade, Mariza Aparecida Ribeiro Rodrigues Fidelis, foi possível identificar o quanto as práticas humanizantes da educação física, mas, especialmente, do jeito freireano de ser, entre conversas de povo com povo, são até hoje, imprescindíveis para que o trabalho continue.
Jilson Carlos Souza, que integra a coordenação da Apafec mencionou que em 22 de outubro de 2002, foi feita a primeira reunião que deu origem ao projeto “Esporte Bem Legal”. Ninguém tinha em mente ainda que, a data é um simbolismo para o povo caboclo. Ela marca a primeira batalha do Contestado, a do Irani, ocorrida em 22 de outubro de 1912. A Apafec nasceu no dia do primeiro combate entre caboclos/as contra o exército da arrogância. “A história da Apafec é marcada pela história das caboclas e caboclos do Contestado”, disse.
A Apafec não existia em 2002. Mas a ideia sim. A criação de um projeto esportivo que não fosse assistencialista, para captar votos dos pais, jovens, homens e mulheres do bairro São Miguel era o guia dessa organização que começava a caminhar, com os pés de gente com frontes e maneiras de viver tão diferentes, localizadas em um espaço geográfico de muita luta. Por isso em 2003, conta o educador, o termo Apafec é gestado, junto e com a vivência daquelas meninas e dos meninos empobrecidos do bairro São Miguel, o mais populoso de Fraiburgo.
Aos poucos, as famílias também formaram parte do corpo de apoiadores desse projeto, afinal de contas, suas filhas e filhos comentavam em casa sobre o que aprenderam e ensinaram, mesmo sem usar essas palavras. “Começou com o nosso filho Rafael, bem pequeno, com a Bruna que hoje já é mãe. Nossos filhos levaram a gente até a Apafec, fazíamos coleta de material reciclável para revender, para conseguir fazer passeios. Foram muitas as aventuras que fizemos juntos que nem deu para pensar em sair mais da Apafec”, lembrou a Mariza, que é parte importante da coordenação da Associação.
Processo das entrevistas
O processo de construção das entrevistas é considerado um dos mais bonitos, por se tratar dos primeiros elementos que compõe a narrativa do livro e do roteiro que, embora pré-organizado, pode ser modificado seguindo as demandas das falas das gentes envolvidas. Esse trabalho de diálogo teve início na última semana e, todos os dias, conta com uma pessoa entrevistada.
O educador Emerson Souza, um dos fundadores da Apafec, já teve seu primeiro depoimento registrado e contou que a luta para garantir a existência desse projeto não foi tranquila. “A luta nunca foi fácil. Quando iniciamos, não tínhamos bola e nem tabuleiro de xadrez, nunca tivemos nada disso. Começamos na coragem e fomos construindo as coisas. Por mais que as dificuldades foram aparecendo no caminho e continuam presentes, não tenho dúvidas que, junto com elas, também surgem outras formas de pensar e não vamos nos abater. A gente continua caminhando. Muitas vezes as coisas demoram para acontecer, é preciso paciência, a gente cansa, mas essa é a jornada”, destacou.
Outras entrevistas serão feitas no decorrer dos dias e o pré-lançamento do livro está previsto para o mês de aniversário da Apafec, em outubro.
Jornalista, militante da Pastoral da Juventude do Meio Popular (PJMP).