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E sua moradia, onde está?

E sua moradia, onde está?

Roberto Liebgott
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Na minha casa há teto, paredes, divisórias e a estrutura me traz conforto, tornando os dias, assim como as noites, alegres e aconchegantes.

O sono é seguro, mesmo nas intempéries do tempo, sinto-me tranquilo, não afligem as tempestades, sequer as percebo.

Quando desperto, nas madrugadas úmidas, ouço o vento que assobia, sentindo-o apenas pelas frestas da janela.

Ele carrega consigo os pingos das chuvas, que, ao caírem sobre o telhado, improvisam notas musicais, tornando-se suaves melodias.

As chuvas regam o quintal dos meus sonhos, saciam as sementes sob o canteiro de terra fértil, germinando-as com doçura.

E as outras, ou os outros do lado de fora – aliás bem perto – sem um teto, sem paredes, sem acolhida, sem uma cama a acalentar o sono.

Para eles e elas, a chuva é fria, “vai entrando em seus barracos e faz lama pelo chão”, traz perdas e – ao invés de regar sementes – destrói o pouco que se tinha.

O vento, para eles e elas, não é uma “suave melodia”. Pela sua força, arranca e rasga os barracos, causando medo, desespero, uma profunda melancolia.

Eles e elas, quando podem, refugiam-se sob marquises, ou agarrando-se às encostas de morros, ou nos barrancos de córregos e rios…

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A “casa comum” esvai-se como sopro de uma brisa inalcançável, restando, na exclusão, os gritos das desesperanças.

Habitamos o país da covardia, onde há alguns poucos com tanto, e tantos lançados à margem de uma Terra que é Mãe, mas tratada com tirania.

Porto Alegre, 26 de outubro de 2026.

Dedicado à Campanha da Fraternidade de 2026:
“Fraternidade e Moradia”.

Roberto Liebgott/Cimi Sul- Equipe Porto Alegre.