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Embora

Embora

Claudia Weinman
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Embora, não como interjeição, mas significando ir embora daqui, do lar que um dia foi teu coração. Fazer às malas depois de cruzar a corda bamba dos julgamentos sociais, de cair no chão derradeiro, sem que pudesses lhe alcançar com sentimento.

Embora sim, agora, no sentido de – apesar dos esforços, seu corpo está cansado e já não disposto à tempo, frio e ofensas. Aquela mulher com mais de meio século me desvelou o futuro das caladas. Eu não fazia ideia de quantas sofrem por nada. É, nada a falar, tudo e nada a denunciar, coisa nenhuma se pode virar.

Me ceifou em partes o coração, por inteira alimentou essa minha consciência explorada: eu vou morrer e ele não vai mudar, me disse em poucas palavras. Até me fez pensar que talvez, quem sabe mesmo, algumas atitudes machistas não nos tornem prisioneiras, nos fazem ser mulheres cada vez mais livres, para tomar atitudes de mudanças e não chegar aos 70 pensando que nada mais faz sentido.

Com essa frase dita por ela, até amanheço deitada, mas não durmo, marcada pela solidão e infelicidade daquela igual. Quanta história a contar, uma vida de pertences seculares que se esvai, porque a sabedoria ancestral encontra-se perdida, nessa licença poética, entre o saber e o poder, dividida em partes, despedaçada, espalhada numa distância onde o tempo não recupera mais.

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É preciso pensar em qual destino nos apegamos para intimar a violência machista, essa que num dia mata, no outro, faz continuar.