Lendo agora
Falta de transporte coletivo em São Miguel do Oeste viola direitos constitucionais da população

Falta de transporte coletivo em São Miguel do Oeste viola direitos constitucionais da população

Claudia Weinman
blank

Pessoas idosas, trabalhadoras/es, estudantes e a população em geral que depende de transporte público, têm sido prejudicada em São Miguel do Oeste pela falta de um de um projeto de mobilidade que assegure o direito de ir e vir das pessoas.

 A Constituição Federal, promulgada em 5 de outubro de 1988 diz, no Art. 6º, que são considerados direitos sociais “a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição”. Ainda, em seu artigo 30, inciso V, cita que cabe aos municípios “organizar e prestar, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, os serviços públicos de interesse local, incluído o de transporte coletivo, que tem caráter essencial”.

Lovaine dos Santos da Silva, cozinheira, moradora do bairro Santa Rita, é uma das prejudicadas pela inexistência de um transporte coletivo. Para ela, a falta de uma “lotação”, como popularmente é chamada a condução coletiva, aprisiona as pessoas, limita o povo de ter a sua liberdade de andar pela cidade para resolver suas necessidades básicas, como fazer as compras do mês no mercado, consultar, pagar contas. “Nem todo mundo tem carro para ir até a cidade. Somos prejudicados pela falta de transporte e temos que nos sujeitar a situações de perigo, inclusive, para ter acesso ao centro da cidade”, contextualizou.

As/os moradoras/es, segundo Lovaine, têm contratado o serviço de mototáxi ou carros de aplicativo. Segundo ela, idosos acabam se deslocando de mototáxi, por ser mais barato, submetendo-se ao frio e à chuva, para conseguirem atender suas demandas.

“Muitas pessoas têm problemas de coluna e não se adaptam a esses transportes de aplicativos, ou ainda, não têm condições de pagar”, comenta.

A vereadora Maria Tereza Capra (PT) alertou que deverá procurar o Ministério Público para denunciar a situação.

“A população de São Miguel do Oeste está totalmente desassistida no que se refere à mobilidade, especialmente no transporte coletivo. É uma vergonha o que temos visto, não há ligação de transporte interbairros. Não há como as pessoas trabalhadoras, idosos e mesmo as pessoas que têm carro, possuem o direito de ter acesso a transporte coletivo, especialmente na conjuntura que vivemos, com o alto preço dos combustíveis, é urgente que o transporte coletivo seja restabelecido. A prefeitura que deveria ser protagonista da resolução do problema não dá a devida importância”, denunciou.

Maria Tereza disse que outras demandas relacionadas ao transporte no município já chegaram até a Câmara de Vereadores. “Até bem pouco tempo recebemos a denúncia de um problema inclusive com o transporte escolar, que não havia no interior e as pessoas não tinham como chegar ao centro da cidade. Isso que as pessoas estão vivendo em nosso município não é só desrespeito, é violação dos direitos constitucionais da população”, enfatizou.

Situação

Segundo matéria divulgada pela assessoria de imprensa da Câmara de Vereadores, no mês de fevereiro teve uma Indicação Legislativa de número 18/2022, com a solicitação para que a administração estudasse a possibilidade de “encaminhar um projeto de lei com o objetivo de subsidiar financeiramente a concessionária de transporte coletivo urbano em São Miguel do Oeste”. A concessionária que realizava o transporte coletivo era a Extremo-Oeste Tur, porém, segundo matéria divulgada pela Câmara: “Os vereadores apontam que muitas linhas regulares de transporte coletivo urbano no município de São Miguel do Oeste sofreram a interrupção dos serviços, justificadas pela baixa procura de passageiros, acarretando a sua inviabilidade, pois não cobre o custo de sua operação”.

Ainda em fevereiro, a vereadora Maria Tereza encaminhou a moção 5/2022 solicitando ao executivo o restabelecimento do transporte público coletivo municipal. O pedido foi destinado ao prefeito e ao secretário municipal de Urbanismo, porém, a vereadora não obteve resposta.

Histórico de violações

See Also
blank

Em julho de 2014, Maria Tereza Capra defendeu a necessidade de um transporte coletivo de qualidade para São Miguel do Oeste. No texto divulgado na época por Maria Tereza:

“No auge do debate do Projeto de Estacionamento Rotativo há questões urgentes que preocupam. O primeiro deles é a necessidade de transporte coletivo eficiente e de qualidade. Atualmente, o transporte coletivo é deficiente não atende as necessidades dos trabalhadores, trabalhadoras e estudantes em termos de horários e itinerários. Nós precisamos de um transporte público coletivo que atenda toda a população, de todos os bairros e que seja indutor de desenvolvimento urbano e promova inclusão social. A administração municipal tem que dar condições àqueles que necessitam se locomover de carro para vir ao trabalho e não tem condições financeiras de custear o estacionamento pago diariamente”.

A matéria sobre esse assunto também foi publicada no Jornal Comunitário, impresso, que está sendo distribuído nas comunidades do Extremo-oeste catarinense.