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Feijão partido

Feijão partido

Roberto Liebgott
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Há fome e quem a tem – e são tantas mulheres, crianças e homens – sente dor, tristeza e angústia.

A dor é profunda, nada pode causar maior sofrimento do que acordar pela manhã e saber que não haverá comida.

A tristeza corrói a alma, dilacera a esperança, consome os desejos de viver.

E, nessas circunstâncias, a fome parece ser irmã gêmea da morte.

A angústia é o sufocamento do coração, já não se tem a quem recorrer e nada mais a esperar.

Tudo se desfez, os sonhos foram arrancados, o horizonte perdeu-se na penumbra.

Mas se há fome e famintos, há os abastados, os ricos que se fartam de comida e praticam injustiças.

Eles, sem pudor ou constrangimento, desperdiçam, lançam ao lixo o excedente de todos os dias.

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Os desperdícios simbolizam a crueldade das desigualdades, representam a concentração perversa dos bens e valores da Mãe Terra.

E – os desperdícios – reafirmam a desumanização do outro, dos pobres, dos indígenas e dos quilombolas, tratados como resíduos em meio à exclusão.

São os que recebem, nas ações da caridade oficial, do desencargo de consciência, um quilo daquele feijão dos grãos partidos e envelhecidos, porque o feijão íntegro já foi servido.