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Janelas

Janelas

Roberto Liebgott
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Quando o amanhecer nos convidar para ver o Sol, abriremos nossas janelas para contemplarmos o tempo.

Quando o som, que vem do lado de fora do quarto nos chamar, o ouviremos em seus detalhes e delicadezas.

É o dia – com seus cantos, encantos, sentidos e belezas – pedindo para seguirmos adiante.

Para vivermos a vida sem abandonar os sonhos, superando os obstáculos das dores e dissabores, sem medo de amar.

E abraçarmos o mundo com ternura, sentindo em nossos rostos o frescor do vento banhado pelo doce perfume das flores.

Sem, no entanto, deixar de ver e agir diante da injusta realidade, que silencia as vozes e oprime, especialmente os mais necessitados e necessitadas.

Sem ensurdecer nossos corações aos gemidos da fome, ou aos gritos dos excluídos nas periferias, tratados como sobras – rostos e corpos esquecidos.

E, no tempo do agora, saber enxergar as sombras da morte dos inocentes na Palestina e indignar-se ao ver as faces famintas das crianças que sucumbem, dia após dia, sem que no mundo, as autoridades esbocem qualquer tipo de compaixão.

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Não deixaremos que nossas almas ressequem, tão pouco afugentaremos nossa humanidade, não naturalizaremos a bestialidade dos que matam, ou mandam matar indígenas, quilombolas, pobres, pretos, gays, lésbicas e Palestinos.

As janelas, ao serem abertas, servirão para nos libertarmos do espelho que reflete o individualismo, o ódio, a ganância, o racismo e a intolerância que habitam nossos quartos.

Porto Alegre (RS), 08 de setembro de 2025.