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Luzeiro.

Luzeiro.

Claudia Weinman
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Subir o morro era fácil. Comia coquinhos alaranjados pelo caminho. Docinhos, mais durinhos, melhor que chiclé do mercado. Os fios enrolavam nos dentes e era como se a idade nos desse mais tempo para aproveitar a vida com as coisas simples.

Confesso que descer o morro eu achava mais difícil. O sol já dormia, o mato me assustava. Mas ela me segurava pela mão e eu nem sei como caminhava, era o tempo todinho com os olhos fechados. Passava até a cerca de arame farpado assim, com os danados escondidos na minha alma, esperando a luminosidade da casa apontar para finalmente abri-los e dizer: mas nem foi difícil chegar.

Só ficava assim porque as mãos dela, quentinhas e firmes, me seguravam pelo morro sem estrada. Ela achava caminhos para encontrar a luz. Apesar de medrosa, eu acho que era uma boa companhia para a mãe nessas jornadas de passeio com horário marcado pelo meu pai. Ela não tinha temor, talvez tivesse, pensando bem, mas encarava. Tudo bem, não tem problema também, a coragem só existe porque o medo a persegue.

Engraçado é que no domingo passado, fizemos uma foto, eu no meio, a mãe e o pai dos lados. A primeira coisa que ela fez foi segurar a minha mão sobre o seu colo. Talvez não tenha percebido, afinal, ela tem tanto para pensar, mas era como se estivéssemos voltando do passeio e eu, finalmente, estava com os olhos abertos, seguia firme mirando para a imagem que estava se fazendo logo à frente: não só na câmera do celular, era a vida dizendo:

“Olá menina, você finalmente resolveu me considerar”.

Sem coquinhos, mato, nem era escuro. Foi preciso um dia de domingo, como aqueles que passávamos na vizinhança para me fazer lembrar de olhar mais à frente.

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Por vezes nos magoamos com as pessoas, sofremos frustrações em vários sentidos e então, fechamos os olhos para não sentir tanto. Sim, os olhos sentem e muito. É preciso uma memória para resgatar o presente, para que a vida não atravesse fechada e sombria.

Existe um luzeiro na encruzilhada, sempre. É pegar e seguir por um dos caminhos.