Mataram mais um irmão
Mataram mais um irmão Guarani Kaiowá!
Seu nome era Vicente Fernandes, talvez quem o executou, ou os mandantes, nunca saberão seu nome, de onde é, qual sua idade, seus parentes, familiares, filhos, filhas, pai e mãe. Não lhes interessa! Vicente, para eles, é um sem nome, um sem identidade. Um ser descartável, um desprezado, incluve pelos governantes, eles e elas dos gabinetes, dos ternos e vestes de luxo.
Mataram mais um irmão de Pyelito Kue, tantos de lá foram matados e muitas mulheres violentadas, meninos e meninas vilependiados, porque reivindicam o óbvio: a demarcação da terra.
Os covardes dos palácios, dos códigos, da Constituição, das canetas, lhes negam esse direito e os submetem aos outros covardes, os assassinos que atacam nas madrugadas.
Mataram mais um irmão indígena, não será o último, porque matá-los tornou-se recreação, festividade, já que depois de atacar as comunidades os jagunços, nas sedes das fazendas invasoras, soltam fogos de artifício, assam carne na brasa e bebem para celebrar a caçada bem executada, sempre a mando do patrão e acobertados pelas polícias dos governantes.
Mataram mais um irmão, em meio a COP 30, lá onde há um enorme festere, de milhares de pessoas, de todos os mundos – do primeiro aos últimos mundos – ricos ou empobrecidos – mas estão lá na ciranda do mercado de carbono, das mineradoras e petroleiras.
Mataram o irmão Vicente Guarani Kaiowá, mas outros Vicentes também acabaram sendo matados e isso não comoveu e nem moveu os engravatados, ou enfeitados de autoridades, que nada fazem, a não ser por eles próprios em suas vaidades, privilégios e prazeres.
Mataram mais um irmão em Pyelito Kue, em Iguatemi, Mato Grsso do Sul. Lá os perseguem há décadas, mas os engravatados, os mediadores dos governantes, optaram por cirandar na COP 30, ao invés de proteger os Guarani Kaiowá e demarcar as suas terras.
Mataram mais um irmão e tudo ficará por isso mesmo, já que eles, os Kaiowá, são apenas estorvos, os indesejados, portanto, podem ser aniquilados.
Imaginemos o contrário, se fosse um Vicente, filho de fazendeiro, o matado? Talvez os engravatados, a essa hora, estariam perseguindo e prendendo os indesejados Guarani Kaiowá de Pyelito Kue.
Até quando?
Porto Alegre (RS), 16 de novembro de 2025.
Roberto Liebgott.