Mercadores da morte
Filé mignon e ouro, combinação perfeita da ostentação das vaidades, da ganância e da perversão.
Os privilegiados e pervertidos não se sentem tocados pela dor e pela fome dos outros, porque nada desses sofrimentos lhes aflige.
A escravização da menina, do menino, não lhes importa, o estupro e o assassinato mais cruel, também não lhes causa qualquer comoção.
Pouco interessa, aos mercadores da morte, se clientes degustem o filé do boi criado sobre terras invadidas.
Também não lhes causa qualquer remorso o fato de o gado ser alimentado e regado com sangue indígena.
Tampouco os afeta que a extração do ouro gere contaminação, destruição e o fim dos ciclos das vidas ambientais e humanas.
As imagens mais devastadoras – difundidas durante a copa do mundo de futebol – foram as dos jogadores brasileiros e seus empresários deliciando-se com a carne enfeitada com ouro.
O ouro que motiva as terríveis cenas de crianças Yanomami em estado de absoluta desnutrição simboliza a opulência e profana o ato de alimentação.
A fome e a morte prematura dos Yanomami são resultantes da invasão criminosa dos garimpeiros, que extraem o ouro, mercadoria que deixa um rastro de morte.
O ouro e o sangue que ele representa se convertem em iguaria que se lança sobre o filé mignon para o deleite ganancioso e omisso dos integrantes da seleção.
Roberto Antônio Liebgott é missionário do CIMI - Conselho Indigenista Missionário, atuando na região Sul do Brasil.