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O Paradoxo da Ignorância

O Paradoxo da Ignorância

Rodrigo Luis Mingori
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Há algum tempo as ciências humanas e sociais têm sido atingidas por um certo tipo de desconfiança, o que por si não é problema algum. Porém, existe algo de perigoso que surge dessa prática: a substituição dela por uma falsificação, também conhecida como pseudociência. Abandonar explicações pautadas em método, cuidadas pela ética e produzidas histórica, política e intencionalmente por discursos ahistóricos e principalmente morais, é sim um prejuízo significativo.  

Isso se processa devido a uma somatória de fatos, como já dito, uma síntese de múltiplas determinações. E além do longo e já conhecido efeito reacionário e, em alguns casos, um conservadorismo tacanho, atacar a produção científica socialmente estabelecida é uma tática que conta com novos elementos. Sobre esses gostaria de me ater um pouco.  

As ciências humanas e sociais, dado seu objeto de estudo, se difere de parte das ciências duras (saúde, natureza, exatas, agrárias e engenharias) justamente por admitir em sua formulação uma quantidade de elementos não exatos. Não se trata de imprecisão, mas de uma pressuposição metodológica de multiplicidade de respostas, que áreas do conhecimento escondem muito bem dada a distância dos pressupostos metodológicos. Em outras palavras, na matemática euclidiana, corriqueira em ambientes escolares, não há duas respostas para um mesmo problema, em ciências sociais isso não é sempre uma regra.  

Assim, o que ocorre costumeiramente é um choque claro no paradoxo da ignorância nas ciências sociais, humanas, letras, linguística e artes. Por exemplo: a falta de conhecimento histórico, dificulta a compreensão que a história é histórica, ou seja, suas formulações e respostas também estão submetidas a construções sociais que (o que não aparece de forma imediata na matemática, por exemplo) são relativas, e – aí a dificuldade se aprofunda, também são arbitrárias.  

De forma direta significa dizer: de forma geral, ninguém acha que a matemática, a astrofísica, a geologia ou a química (ou outras áreas das ciências duras) são arbitrárias em seus fundamentos, portanto elas ganham um caráter de certeza incontestável (o que curiosamente não é nem de longe algo científico), coisa que não ocorre com ciências humanas. O efeito que a falta de arbitrariedade tem sobre essas áreas é facilmente observável, portanto, qualquer resposta é possível, ou pior, nenhuma. Essa é minha hipótese sobre uma das estruturas que funcionam para desqualificar socialmente o efeito de verdade das explicações produzidas pelas ciências humanas.  

Assim, sem recorrer à falácia do argumento de autoridade, quando um cientista social ou filósofo elabora uma análise, ela é rapidamente lida como mera opinião. Essa é a consequência do paradoxo da ignorância para com as ciências sociais, é impossível considerar o desconhecido. A falta da compreensão que a sociologia visa elaborar o ferramental necessário para compreensão de processos coletivos (por exemplo), ou a história, é uma ciência que busca compreender o passado feito presente é um problema grave. O mais indicado para se construir uma casa é usar as ferramentas adequadas, o mesmo vale para análise social, é uma tarefa que pode ser melhor desempenhada utilizando os instrumentos adequados e esse deveria ser o espaço das ciências humanas e sociais.  

 

Tem, mas era isso.  

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*Estou para lançar um manifesto contra o empreendedorismo, explicarei melhor nos próximos textos assim que juntar mais dados e ranço.