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Paz

Paz

Roberto Liebgott
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Paz

Onde posso lhe encontrar? Dizem maravilhas de você. Torna-se presente nas palavras que ecoam por dentro dos céus de muitas bocas. Está em toda parte, mas procuro e não a vejo.

Falam que você irradia tranquilidade, como se ouvíssemos sons e cantigas de pássaros ao amanhecer. E, por mais bela que possa ser a narrativa, não a sinto.

Dizem que você é pura, cristalina, tem ao redor um esplendor de cores, perfumes, flores e leveza. Eu procuro e não percebo o que dizem de você.

Aqueles e aquelas que – insistentemente – a referem, na maioria das vezes, estão em palácios bonitos, nas tribunas, conferências, organismos internacionais, usam microfones potentes, exaltam sua beleza, mas não a conhecem.

Paz, muitos deles e delas mandam matar, bombardear creches, hospitais, destruir o meio ambiente, invadir terras indígenas e quilombolas e, pior, se divertem com a fome e miséria de tantos irmãos e irmãs.

Paz, essas pessoas são gananciosas, gostam de acumular riquezas e poder, querem tudo para si. No entanto, falam que você é bela, age na reciprocidade, na fraternidade, mas isso soa estranho, porque detestam tais práticas.

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Paz, desejo lhe conhecer, aprofundar meus sentimentos. As narrativas sobre você são inesgotáveis e infinitas às referências acerca da poderosa capacidade de gerar ambientes seguros, alegres, generosos e harmônicos. E eu, por mais que procure, não consigo reconhecer.

Paz, talvez eu seja incapaz de lhe encontrar. Talvez esteja em minha frente, na porta de casa, ou dentro dela, ou no vizinho ao lado, mas não a presencio. Agora clamo por você, se ouvir, por favor pegue-me pelas mãos e seguiremos lado a lado!

Porto Alegre, RS, 09 de dezembro de 2023.
Roberto Liebgott.