Que imagem de “índio” foi produzida pelos dominadores?
Que imagem de “índio” foi produzida pelos dominadores? De um desalmado, um bruto, preguiçoso ou feiticeiro?
De um indiano, ou oriundo de algum outro lugar do planeta, que se perdeu na rota das navegações dos impérios europeus?
Quem sabe, talvez, um desnaturado, canibal, infanticida, que se divertia praticando maldades?
Ou um desumanizado, que deveria ser catequizado e batizado para garantir o direito de ter uma alma?
E depois, vestido como um colonizado, educado e tornado um bom “selvagem”, apto aos ofícios do trabalho e a servir aos escravagistas?
Podendo, inclusive, ser transformado em personagem dos romancistas, idealizadores do “índio” bom, puro e belo, projetados nos personagens do Peri ou de Iracema subjugados?
Mas, os Índios da realidade são outros e outras, compõem nações, eram territorializados, com culturas, línguas, crenças e modos próprios de existir.
São os originários das terras invadidas, saqueadas, incineradas, loteadas, cercadas e devastadas pelos brancos exploradores.
Foram escravizados, assim como os negros sequestrados da Mãe África, agredidos em suas existências, violentados e submetidos à ganância de covardes.
São aquelas e aqueles sujeitos das resistências, que permanecem na defesa das águas, das matas, de outras lógicas e formas de viver, que não a brutalidade e perversidade de invasores.
Índio, índios, indígenas – palavras da desconstrução do outro, dos tradicionais, daquelas e daqueles que sempre estiveram no seio da Terra Mãe, no lugar de Ser.
Eles e Elas compõem, hoje, 305 povos, comunidades linguísticas, em suas etnicidades e diferenças, que lutam por uma terra sem a maldade colonial.
São aquelas e aqueles que se opõem ao fascismo e capitalismo, ao genocídio e arbítrio, sem tréguas dos que consomem as vidas do planeta.
São elas e eles contra o agro-tóxico, o garimpo, a mineração, a transgenia, o envenenamento da natureza e dos corpos.
São elas e eles pela demarcação já de suas terras, contra o marco temporal, por políticas públicas diferenciadas, por justiça e pelo Bem Viver.
Porto Alegre, 19 de abril de 2023.
Roberto Antônio Liebgott é missionário do CIMI - Conselho Indigenista Missionário, atuando na região Sul do Brasil.