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Ser mulher incomoda muita gente

Ser mulher incomoda muita gente

Louise Löbler
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Sim, isso é uma afirmação.

Escrevo hoje para refletirmos juntas e mais uma vez trazer alguns pontos que vocês já devem ter vivenciado.

Primeiro só queria reforçar que é necessário pensarmos sobre isso; se não fosse necessário não teríamos ainda tantas diferenças; e sim, nós mulheres incomodamos em geral os outros e ouso dizer que à muitas pessoas.

Incrível como nunca fizemos o suficiente bom para termos o mesmo salário dos homens, nunca somos boas o bastante para não sermos julgadas por nossas maternidades, sempre estamos em débito à alguém que se acha no direito de nos julgar só porque somos mulheres.

Durante os últimos anos tenho passado em particular pela experiência de construir a maternidade, sim construir, porque afinal a gente não nasce sabendo ser mãe, a gente aprende e reaprende todos os dias; e confesso que constantemente tenho ficado frustrada comigo mesma e com os outros que talvez eu estivesse esperando algo, mas hoje compreendo que as pessoas só lhe oferecem o que elas podem; de fato é uma ilusão que nos ensinam de que a maternidade sempre é fácil, doce e rodeada de pessoas que te ajudam.

Mas, acho que o que me deixa convicta mesmo que incomodamos muito é quando decidimos seguir no mundo do trabalho (e aqui nem vou entrar nas questões de trabalho invisível), porque as condições não são iguais. Me parece sempre que tenho que escolher se quero ser mãe ou seguir uma carreira profissional.

Tenho visto que em muitos processos seletivos e editais para concursos públicos, por vezes nos exigem um currículo de produção acadêmica contínua sem se importarem com nosso maternar, digo isso porque o que conta é quantos artigos tu publicou, não interessa à sociedade se a gente estava literalmente parindo, já em outros vi que para quem teve filhos nos últimos 5 anos conta mais tempo de produção para dar conta de concorrer de forma igual com os/as concorrentes.

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Recentemente no currículo lattes há um espaço para colocar o tempo de licença maternidade, há em algumas Universidades locais de recreação infantil e banheiros com trocadores, mas ainda há muito que se avançar, para incluir nós e nossas crianças nesse mundo.

Por isso que a minha indignação é atualmente movida por amor ao meu filho, esse amor construído dia após dia; ocupar espaços de trabalho, de estudo, de pesquisa, de fazer política são essenciais para essa construção de um mundo melhor, mais justo e igualitário.

Não tenhamos dó de nós mesmas, não nos julguemos incapazes, devemos fazer essencialmente ao contrário, nossa tarefa aqui é construir condições e pautar mudanças para que nós, mulheres sejamos e possamos viver com dignidade sem ser um incômodo, ser apenas nós mesmas à ocupar qualquer que seja o lugar que desejamos.