Talvez amanhã
Tantos sonhos desfeitos, vidas dilaceradas, famílias famintas e desamparadas.
Pessoas sem terra e sem lar, multidões de desempregados, milhões de informais desesperados.
Humanos em desumanização, povos brutalizados, territórios devastados, águas intoxicadas.
Extinção de seres, incêndios que arrasam, plantas envenenadas, comidas contaminadas.
Grãos infertilizados, sementes transgenificadas, frutos dessarborizados e desidratados.
Resultados de um país mal amado, mal tratado, mal acabado, mal gestado e executado.
Governantes perversos, de práticas odiosas, intolerantes, violentos, gananciosos e ignorantes.
Corruptos empoleirados, perversamente atuantes, agredindo e machucando todas as gentes.
Tiranos por formação, repressivos por tradição, covardes por extensão, corroem a economia, saúde, educação e as culturas da nação.
Talvez amanhã haja reparação, desde que as forças populares, sociais se mobilizem e articulem um contra-ataque à barbárie e opressão.
Há que se enfrentar as injustiças tecendo um futuro de libertação, com os finos fios da solidariedade, do amor e da partilha do pão.
Talvez amanhã seguiremos todos juntos, vinculados pelo coração, respeitando os pobres e nossos povos originários como irmãos.
Em tempos tão sombrios esperançar é uma valiosa missão, mas proteger a Terra Mãe constitui-se na mais urgente obrigação.
Roberto Antônio Liebgott é missionário do CIMI - Conselho Indigenista Missionário, atuando na região Sul do Brasil.