Tecnologia, populismo e democracia em risco
No livro Como que as democracias morrem, Steven Levitsky e Daniel Ziblatt identificam os métodos utilizados para corroer por dentro as democracias e instalar regimes autoritários.
A nova maneira de desestabilizar governos consiste no trânsito de líderes de tendência autoritária por meio de poderes constitucional e legalmente instituídos. Navegando por dentro de estruturas democráticas, terminam por transformá-las em regimes totalitários, sem necessariamente utilizar as forças armadas naquilo que conhecemos como um golpe de estado clássico.
Nesse processo, a democracia é gradualmente destruída, através de medidas polarizadoras, que corroem as estruturas de Estado em que é alicerçada. Dentre as ações identificadas, estão ataques a cortes da justiça, em geral, e a alguns de seus membros mais ativos, em particular.
No combo, cabe também a figura do outsider, geralmente uma figura exótica, intelectualmente pobre e que abarca o discurso da negação à política. Ou, já sendo político, adota o discurso da velha e da nova política.
Andres Bruzzone, autor do livro Ciberpopulismo, aponta a evolução tecnológica e o uso das mais sofisticadas ferramentas de big data como instrumentos que viabilizam a expansão rápida e desenfreada de ideias antidemocráticas.
Segundo ele, ciberpopulismo é a combinação eficiente de técnicas de propaganda do século XX com as possibilidades abertas pela tecnologia no século XXI.
O populismo, aqui entendido como uma narrativa ou um método para tomada ou manutenção do poder, a rigor, é composto por 03 elementos essenciais: 1) um inimigo a ser combatido; 2) um povo a ser salvo; e 3) um líder capaz de fazer isso.
No Brasil o inimigo escolhido para ser combatido foi o comunismo. Uma ironia porque o Brasil sequer conseguiu promover uma reforma agrária decente, em que pese seus mais de 90 milhões de hectares de terras agricultáveis.
Fazendo amplo uso das ferramentas tecnológicas disponíveis o discurso conservador foi avançando, encontrando amparo e ressonância numa parcela expressiva da população com pouca disposição para se informar e baixa capacidade de análise.
O resultado prático dessa combinação é um terreno fértil para propagação de meias verdades ou mentiras inteiras.
O movimento com método e propósito busca enfraquecer as estruturas de estado que sustentam a democracia.
Tratam os adversários como inimigos, intimidam a imprensa livre, ameaçam impugnar resultados eleitorais. Procuram enfraquecer as defesas institucionais da democracia, incluídos os tribunais.
Fazendo intenso uso daquilo que a moderna tecnologia das redes sociais oferece, ditadores chegam ao poder não por meio das armas, mas usando as ferramentas legais da democracia, para depois destruí-la em nome de uma liberdade que sequer conseguem descrever.
Portanto, o desafio que se coloca àqueles que defendem a democracia está em encontrar meios e instrumentos com eficácia suficiente para inibir os efeitos deletérios das práticas antidemocráticas visíveis todos os dias, nas redes sociais especialmente.
A democracia no Brasil ainda está em risco.
Professor aposentado Rildo Edson Lazarotto. Mestrado em Economia e Desenvolvimento Econômico pela Universidade Federal do Paraná. Tema da dissertação: “Distribuição de Renda no Brasil, uma análise pós Plano Real”.