Caminha Contestado
Caminha Contestado
Um circuito turístico de caminhada, pedalada e cavalgada pelo território histórico-geográfico da Região da Guerra do Contestado – marco inicial e lente teórica.
Não existe um único caminho na Região da Guerra do Contestado, todos se interlaçam, sobretudo na área que vivenciou quatro anos de guerra no interior dos municípios de Lebon Régis e Timbó Grande, em Santa Catarina, no Sul do Brasil. O Caminha Contestado busca transformar esse território marcado pela guerra e pela cultura visceral secular caboclo-sertaneja na Capital Nacional das Caminhadas nos Sertões que vivenciaram as rebeliões do processo de formação socioterritorial brasileira.
O Contestado não fica longe dos centros dinâmicos que participam deste tipo de atividades: são pouco mais de 300 km de Florianópolis e Curitiba, as capitais estaduais envolvidas na Guerra do Contestado, cujo interesse pela região é salutar. Também está próximo de importante centros regionais, como Chapecó, Lages, Blumenau, Caxias do Sul, Joinville, Passo Fundo e Criciúma.
A estreia deste novo circuito com seu passaporte exclusivo envolverá as caminhadas, cerne do projeto, e ainda estará aberto para o registro de pedaladas e cavalgadas, valorizando e ampliando outras modalidades turísticas que envolvem este reencontro das pessoas com a natureza e a cultura interiorano-sertaneja brasileira. O foco é no turismo como gerador de renda, trabalho e riqueza para a população caboclo-sertaneja, valorizando os espaços rurais e as ruralidades, integrando as culturas urbano-rurais.
O Caminha Contestado, busca ainda, difundir a cultura e estimular prática de atividades no meio rural, com um diferencial: ser uma área marcada pela guerra, cujas marcas estão no chão, nos caminhos, nas trincheiras, nos crematórios, nos espaços sagrados do catolicismo rústico do sertão, nas águas santas do profeta João Maria, um personagem icônico dos sertões centro-sulistas do Brasil.
O circuito, estimulará o desenvolvimento socioeconômico da Agricultura Familiar com a venda direta de produtos caboclo-sertanejos e coloniais, pois envolve e valoriza a coexistência dos povos formadores deste território, do antes, do durante e do depois da Guerra do Contestado.
Durante as caminhadas, cavalgadas e pedaladas, será possível comprar produtos, tais como vinhos, salames artesanais, queijos coloniais e temperados produzidos por cooperativas da Agricultura Familiar, bolos, pães, geleias, frutas, pinhão, mel de abelhas, milho para quireras, produtos de porcos crioulos, além de visitar espaços de memórias caboclos e da Guerra do Contestado, em museus familiares.
Além dessa imersão no mundo sertanejo e da guerra, as pessoas poderão sentir um lugar com uma alma profunda, bem distante dos lugares de turismo massificado e carregado de invenções. No Contestado tudo é real – a cultura caboclo-sertaneja, assim como um território repleto de marcas de uma guerra que definiu vidas, sonhos e a esperança de um futuro de felicidade para o povo contestadense, dos planaltos e vales, cujos invernos, o frio abaixo de zero e a geada constante, emolduram as mais belas paisagens intercaladas entre campos, bosques com araucárias e rios com águas límpidas.
Essa proposta envolve o retorno da atividade turística no pós-Covid-19, pandemia que gerou o maior impacto da história do setor turístico nacional, pois apenas em 2020, mais de 90% das atividades turísticas paralisaram, gerando um impacto de mais de 7% do PIB nacional. Este retorno demanda ações, inovações e uma reconstrução a partir da base de vida de milhares de pessoas, sobremaneira as que vivem no meio rural e nas pequenas cidades, onde o turismo pode fazer a diferença, gerando renda e trabalho, além de agregar valor aos produtos oferecidos nos sertões brasileiros.
Se faz necessário tratar da ressignificação da importância da vida interiorana sertaneja e impor-lhe a qualidade necessária exigida pelo turismo, além da diversificação deste produto mercadológico. É, necessário, ainda, cientificar, ampliar as tecnologias e ampliar as atividades oferecidas, com uma diversidade agregadora de sentidos reais, em um turismo de encantamento ultrapassando a lógica histórica de turismo de massa estabelecido em determinados lugares, aniquilando outros, como o caboclo-sertanejo e da guerra.
Urge ampliação de créditos que permitam garantir a competitividade, assim como é preciso seguir a tendência de modificações impostas pela pandemia, ampliando o mix de produtos oferecidos, alargando a dimensão do turismo como gerador de uma grande transformação no meio rural, afiançando a permanecia da população rural no campo, ampliando e fortalecendo a Agricultura Familiar, por meio de uma gestão que transforme tudo isso em realidade, aproveitando o momento histórico, levando turistas para vivenciarem novas geografias brasileira, como a da Região da Guerra do Contestado.
Lebon Régis, Timbó Grande e diversos outros municípios do Contestado possuem tais trunfos. São uma região com marcas profundas de uma guerra, agregadora de elementos paisagísticos de interesse e curiosidade para visitantes. Outros municípios da região deverão se aliar nesse caminho sem volta: o de mostrar ao Brasil e ao mundo, a força de um povo que esteve presente na formação do território nacional, que se reencontrou com sua cultura secular e com a importância da bravura dos seus antepassados. Isso é uma questão de tempo, isso fortalecerá os laços de coexistência entre todos os grupos humanos que transformaram a região do Contestado em um complexo humano único no Brasil, com caboclos, indígenas, descendentes de europeus, de tropeiros, de mateiros, de ervateiros que ocupam o mesmo território e sonham com um futuro de paz e justiça social!
Esse é o Contestado. Esse Contestado merece um produto próprio e único, justamente pelo fato de estar numa região cuja alma é verdadeira para o turismo, sem precisar inventar, sem precisar se comparar. O Contestado é incomparável!
Nesse contexto, nasce o Caminha Contestado, cujo passaporte chamamos de salvo-conduto, dando as pessoas o direito exclusivo de circular, de caminhar, de pedalar e de cavalgar pelos sertões da Guerra do Contestado. Mesmo que estes sejam tempos de paz, a guerra e a cultura cabocla são o mais exclusivo circuito turístico brasileiro. Exclusivo, também, ao possibilitar além das clássicas caminhadas, a inclusão da pedalada, cuja popularização de aventuras de bicicleta é inegável, e ainda, as cavalgadas, que possuem um cotidiano de realizações marcante nestes sertões brasileiros, não sendo diferente no Contestado.
A capa do passaporte traz elementos basilares da cultura regional do Contestado, o monge profeta João Maria segurando a bandeira do Contestado, cercado pela floresta com araucárias, em uma estampa vermelha, que faz recordar a luta e a bravura do povo caboclo que segue resistindo no sertão, assim como os tempos de guerra, mostrando ao turista, os principais elementos da paisagem física e humana regional.
Na contracapa do salvo-conduto há espaço para identificação do visitante-praticante do esporte, assim como os logomarcas registradoras do reconhecimento dos dois municípios fundadores do Caminha Contestado: Lebon Régis, Coração do Contestado, Timbó Grande, Capital Cabocla Catarinense do Contestado e o Observatório da Região e da Guerra do Contestado, onde o projeto foi desenvolvido.
E, no interior do salvo-conduto, há espaço para registros das caminhadas, pedaladas e cavalgadas, cujos selos/carimbos, serão confeccionados e registrados ao final de cada percurso concluído pelo turista, sendo 12 selos para fechar um salvo-conduto, número que representa ao ano do início da Guerra do Contestado, 1912. Este primeiro salvo-conduto traz, ainda, os dizeres: “Guerra do Contestado, 110 anos”, pois será histórico e exclusivo para quem participar das três caminhadas de outubro em Lebon Régis e Timbó Grande, guardando como relíquia, o primeiro passaporte do lançamento do circuito Caminha Contestado.
Esse projeto é uma parceria entre o Observatório da Região e da Guerra do Contestado, sediado na Universidade Estadual de Londrina, com a Associação Cultural Coração do Contestado, sediada em Lebon Régis e a Associação Cultural Cabocla Filhos do Contestado, sediada em Timbó Grande.
A proposta, organização e elaboração do projeto Caminha Contestado é deste professor Nilson Cesar Fraga, coordenador do Observatório da Região e da Guerra do Contestado, e a arte do salvo-conduto foi produzida pelo estudante Anthony Gabriel Vieira Bonfim, do curso de Design Gráfico da Universidade Estadual de Londrina, estagiário na Gráfica da UEL.
O Caminha Contestado é um desafio, mas isso faz parte do próprio espirito caboclo-sertanejo, o de ressignificar-se no mundo que exige sua resiliência constante. Muitas caminhadas já foram realizadas nos municípios fundadores envolvidos nessa proposta, agora era a hora de estabelecer exclusividade no que já realiza com qualidade inegável, agora é a hora do Caminha Contestado fazer-se presente nos roteiros turísticos catarinenses e brasileiros.
110 anos depois do início da Guerra do Contestado é preciso formalizar e profissionalizar esse produto, ampliando a cultura cabocla no conjunto da coexistência dos povos que formam a região do Contestado. No Contestado não é preciso inventar turismo, basta fazer com que os turistas vivam, sintam e se encantem com esse Brasil profundo, o Brasil Caboclo-sertanejo, lá onde está depositada a alma da brasilidade autêntica.
Venha para o primeiro Caminha Contestado, inaugural, histórico, único e leve seu salvo-conduto de circulação pelo território da Guerra do Contestado, nos seus 110 anos!
Lebon Régis, SC: 16 de outubro de 2022, às 8h – III Caminhada Ecológica e Cultural do Coração do Contestado – “varando” o patrimônio do Coração do Contestado – criação e lançamento do “Caminha Contestado” – Percurso: 9 km – saída da Igreja Matriz e chegada no Crematório de Perdizinhas
Timbó Grande, SC: 22 de outubro de 2022 – dia rememorativo dos 110 anos do início da Guerra do Contestado, às 09h – V Caminhada Jorge Matoso – saída do Sítio do Sr. Valmir Martins até o Sítio Histórico de Santa Maria – 6 km, com ônibus saindo da Praça do Contestado, até a propriedade do agricultor.
Timbó Grande, SC: 22 de outubro de 2022 – dia rememorativo dos 110 anos do início da Guerra do Contestado, às 23h – Caminhada Noturna da Mística Cabocla – do Rancho do Cafú ao Caçador Grande.
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Nilson Cesar Fraga, é Pesquisador do CNPq/PQ. Geógrafo. Professor no Curso de Geografia na Universidade Estadual de Londrina. Doutor em Meio Ambiente e Desenvolvimento. Coordenador do Laboratório de Geografia, Território, Meio Ambiente e Conflito – GEOTMAC/UEL. Professor no Programa de Pós-graduação em Geografia na Universidade Federal de Rondónia – PPGG/UNIR. E-mail: ncfraga@uel,br