Brasília: fragmentos e flagelos
Quero que saiba
que o múltiplo
de beco é quadra
metade de uma oitava
em sustenido de Sol
torre Eiffel
em miniatura
terra de falsos palácios
falsos reis
Kizares
sorte minha
poder fotografá-la
antes de me
apaixonar…
Sua estrutura óssea
corroem-se em osteoporose
pela ineficácia de sua postura
seu dorso curvo, em asas
norte, sul
sul, norte
ofusca as quadras
isolando o residente
escondendo o remetente
dificultando
o trabalho do carteiro
que perdeu minha encomenda
para parar no ar
helicópteros e beija-flores
o paraquedista
caiu no lago
morrendo afogado.
Ângelo Bueno é poeta ativista, membro do Conselho Indigenista Missionário (CIMI). Entre os anos de 1982 a 1992 atuou na região Sul com os povos Guarani e Kaingang. De 1992 até hoje atua com os povos indígenas do Nordeste, em Pernambuco e Norte da Bahia. Sempre percebeu a importância da arte para rever paradigmas e favorecer a construção da sociedade democrática, fazendo parte dos poetas marginais, denunciando as violências praticadas pela necropolítica e anunciando o bem-viver em terras de ABYA YALA.