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Câmara de Vereadores de São Miguel do Oeste: “Tô rico, tô pobre”

Câmara de Vereadores de São Miguel do Oeste: “Tô rico, tô pobre”

Rildo Edson Lazarotto
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“TÔ RICO, TÔ POBRE”

 

A fala do personagem João Grilo, no romance adaptado para o cinema: O Auto da Compadecida, do imortal Ariano Suassuna, pode ser aplicada à prefeitura de São Miguel do Oeste. No filme, João Grilo esbraveja e se diz cansado de ser rico e em seguida ser pobre de novo.

Por aqui temos um caso em que a vida imita a arte. Pois nesta semana, o prefeito Zanardi emitiu o decreto 10.571/2025, bloqueando R$ 38.931.839,51, do orçamento do município: “tendo em vista a avaliação do cumprimento da Metas Bimestrais de Arrecadação até o 3º bimestre e sua tendência no ano financeiro”, conforme consta na justificativa do decreto.

Isso quer dizer que as secretarias e órgãos do município devem puxar o freio e gastar menos ou parar de gastar. Ou seja, poderá faltar dinheiro, o município está pobre.

Isso soa estranho porque há bem pouco tempo foi aprovado na Câmara de Vereadores um projeto para empréstimo de R$ 60 milhões. Depois aprovaram também um projeto criando 13 cargos comissionados, elevando em R$ 1 milhão por ano a despesa com folha de pagamento.  Para aprovar, os nobres edis lançaram mão de um malabarismo retórico empolgante, cantando em verso e prosa a capacidade financeira da prefeitura. Naquele momento o governo parecia rico.

Agora temos o decreto bloqueando recursos e o movimento do João Grilo: “tô rico, tô pobre”.

O decreto é estranho e peca pela falta de sensibilidade. Vamos olhar o art. 3º:

“Fica expressamente determinado aos Secretários Municipais e demais gestores de orçamento e recursos financeiros deste Município, o cumprimento das disposições contidas no presente ato sob pena de responsabilização”.

Ninguém haverá de ser contra o controle de gastos, sobretudo quando falamos de recursos públicos. Mas, a população precisa saber que o orçamento da saúde está sendo reduzido em R$ 6.411.000,00, ou seja, se os atendimentos já eram demorados enquanto a prefeitura era rica, imagina agora que está no modo João Grilo.

É inaceitável que haja corte de gastos na saúde. É desumano supor que teremos menos dinheiro para tratar pessoas que padecem há meses e até anos a espera de consulta, exame ou cirurgia. Em caráter de importância podemos dizer o mesmo na educação.

O prefeito parece perdido nas decisões como o sujeito que toma laxante e remédio pra dormir ao mesmo tempo. O resultado tende a ser o pior possível. Enquanto ordena um bloqueio expressivo no orçamento, não demonstra preocupação em criar cargos comissionados no serviço público.

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O argumento de melhorar o atendimento à população com os novos cargos vai por terra quando se vê um corte deste tamanho na secretaria da saúde.

Neste momento a maior expectativa da população é saber qual será o impacto do contingenciamento nos serviços necessário à população, especialmente na saúde.

A mídia tradicional deu mais ênfase para as armadilhas ao mosquito da dengue e deixou no anonimato um decreto tão importante.

Resumidamente, ou o povo foi enganado quando houve a votação dos projetos que aumentava despesas ou está sendo enganado agora. Com a palavra o prefeito e vereadores. É preciso que haja resposta e não pode ser igual a resposta de Chicó, companheiro de João Grilo:

– Não sei, só sei que foi assim!

O povo desta cidade merece mais do que isso.