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Com quais argumentos?

Com quais argumentos?

Roberto Liebgott
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Nós nascemos de duas mães, a Terra e a Mulher.

Somos sementes do amor gerado em seus ventres.

Sempre estivemos aqui, corríamos pelos campos, florestas e ríamos muito.

Banhávamos nos rios e lagos de águas limpas e cristalinas.

Subíamos nas árvores, colhíamos seus frutos e cantávamos com as aves.

Vocês, milhares de anos depois, chegaram de forma hostil e cruel.

Seus olhos sempre estavam cheios de ódio e as mãos sujas de sangue.

Portavam cruzes, correntes e espadas, com as quais nos perseguiam.

Queriam nossos corpos dóceis e nossas almas presas a vocês.

Nos tomaram como escravos e nossas mães foram abusadas e violentadas.

Saqueavam tudo que estava ao alcance e nossa terra acabou fatiada e cercada.

Cortaram, arrancaram, despedaçaram, envenenaram e mataram.

Tudo em vocês tinha, e ainda têm, odor de morte e maldição.

Vocês são insensíveis, sem qualquer compaixão, inclusive pelos seus.

Cospem na mãe, a maltratam sem pudor porque são predadores.

E, mesmo depois dos séculos, resistimos a vocês, não nos destruíram, apesar dos massacres.

E vocês continuam com o mesmo desprezo, invadem e aniquilam nossos refúgios.

Criam leis, depois revogam, em seguida forjam outras, porque sempre querem mais.

Tornam os governos marionetes de suas ambições e eles, todos eles, se alinham ou se associam a vocês.

Nos ofendem, nos tratam como estrangeiros, como se fossemos nós os invasores.

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Queimam nossas casas de Reza, ignoram nossas histórias e, racistas que são, desumanizam nossa existência.

Entre vocês, negociam nossos direitos fundamentais para tomar a terra, o pouco dela que ainda se mantém viva, graças a nós, seus filhos.

Vocês são dissimulados, nos convencem de que querem o bem, mas depois arrancam nossos direitos da Constituição Federal, feita por vocês mesmos.

Em suas reuniões e festinhas debocham e ridicularizam de nossos modos de ser, de nossas falas, valores, crenças e culturas.

E, ao fim de tudo, usam, para nos matarem – um pouco a cada dia – os mesmos argumentos de sempre: desenvolvimento e governabilidade.

Nós seguiremos, apesar de vocês, com vocês ou contra vocês, lutando em defesa da vida da Mãe Terra, em defesa de nossas histórias, de nossas memórias, de nossas filhas, filhos e do futuro.

Não a Lei do Genocídio 14.701/2023, não ao marco temporal e demarcação já!

Porto Alegre (RS), 20 de abril de 2024.

Roberto Liebgott
Cimi Sul – Equipe Porto Alegre.

Texto inspirado no testemunho de José Vergueiro, liderança Kaingang do Rio Grande do Sul, sobre o contexto atual.