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Encontro de Jovens Guarani reforça o cuidado com os plantios e o fortalecimento do modo de vida Guarani Mbya

Encontro de Jovens Guarani reforça o cuidado com os plantios e o fortalecimento do modo de vida Guarani Mbya

Cimi Sul
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De uns anos para cá, vêm sendo desenvolvidas no Vale do Ribeira diversas ações voltadas ao fortalecimento dos plantios e dos modos de vida Guarani Mbya, com destaque para o município de Iguape, nas Terras Indígenas Ka’aguy Hovy e Guaviraty, mas também em outras aldeias da região. Essas iniciativas têm se consolidado por meio do projeto “Proteção Ecológica: fortalecimento das práticas agroecológicas junto aos Povos Indígenas em SP”, realizado pelo Cimi Regional Sul, Equipe Vale do Ribeira, com apoio do Instituto das Irmãs de Santa Cruz (IISC), em trabalho conjunto com a Comissão Guarani Yvyrupa (CGY), que também vem apoiando e articulando ações junto às comunidades Guarani da região.

Foto: Equipe Vale do Ribeira CIMI Sul e povos indígenas.

O projeto tem contribuído para o fortalecimento dos roçados tradicionais, a troca e multiplicação de sementes Guarani, mas não só, o resgate dos saberes sobre manejo Guarani e agroflorestal com foco no reconhecimento das práticas de cuidado com a terra. Entre as ações realizadas estão o apoio aos plantios coletivos, a entrega de sementes e mudas nativas, como de milho Guarani, feijão, abóbora e espécies frutíferas, além da distribuição de ferramentas que facilitam o trabalho nos roçados.

Aldeia Guaviraty, em mutirão de plantio. Foto: Equipe Vale do Ribeira CIMI Sul e povos indígenas.

Outro destaque tem sido o fortalecimento das práticas com as abelhas sem ferrão, com oficinas sobre manejo de iscas e construção de caixas de criação destas abelhas. Essas ações têm reforçado a segurança alimentar e valorizado os saberes próprios dos Guarani, fortalecendo sua autonomia, espiritualidade e relação com a natureza.

As ações desenvolvidas no âmbito do projeto têm mostrado que o fortalecimento dos plantios é também o fortalecimento da vida e da espiritualidade Guarani. Mais do que garantir alimento, os roçados são espaços de transmissão de saberes, convivência e resistência, onde se aprende a viver em harmonia com a floresta e com Nhanderu.

Aldeia Itagua, TI Ka’aguy Hovy. Foto: Equipe Vale do Ribeira CIMI Sul e povos indígenas.

Encontro de Jovens Guarani Mbya

No dia 12 de agosto, a Aldeia Kaguy Poty, localizada na Terra Indígena Ka’aguy Hovy, em Iguape (SP), recepcionou um encontro de jovens Guarani, organizado pelas lideranças locais, com o apoio do Cimi Vale do Ribeira, do Instituto das Irmãs de Santa Cruz (IISC) e da Comissão Guarani Yvyrupa (CGY).

Foto: Luciano Karai e equipe Vale do Ribeira CIMI Sul.

O encontro teve como objetivo fortalecer o diálogo entre as gerações e refletir sobre os desafios e responsabilidades dos jovens diante das transformações trazidas pelo mundo não indígena, destacando a importância de valorizar os conhecimentos tradicionais e o cuidado com os plantios.

A atividade iniciou com aconselhamentos conduzidos pelos mais velhos, que compartilharam suas palavras de sabedoria sobre o uso das tecnologias, os casamentos, o plantio e a importância de manter o nhandereko (modo de ser Guarani). As anciãs e os anciãos alertaram para os desafios de conviver com o mundo jurua (não indígena) e ressaltaram a necessidade de fortalecer a língua, os conhecimentos espirituais e o vínculo com a terra.

Durante os aconselhamentos, o plantio tradicional foi lembrado como fundamento da vida Guarani, um espaço de aprendizado, convivência e espiritualidade. Homens e mulheres reforçaram que a reza, o plantio e o convívio coletivo caminham juntos e são fundamentais para manter o equilíbrio e a força da comunidade, especialmente entre os jovens, que enfrentam muitas influências vindas das cidades e das redes sociais.

Durante a manhã, representantes do Cimi Regional Sul contribuíram com uma análise de conjuntura, abordando o marco temporal, as invasões em territórios indígenas e os impactos do modelo capitalista sobre os modos de vida coletivos. A missionária Jussara Rezende destacou que a resistência e o fortalecimento dos territórios e dos plantios são caminhos essenciais para a autonomia e o bem viver dos povos indígenas.

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A missionária Jussara Rezende, do CIMI Regional Sul, contribuiu durante a atividade fazendo uma análise de conjuntura. Foto: Luciano Karai e equipe Vale do Ribeira CIMI Sul.

Os jovens Guarani também tiveram espaço para se expressar, compartilhando suas preocupações e perspectivas sobre o futuro, o uso das tecnologias e a vida nas aldeias. O diálogo entre gerações foi marcado pelo respeito, escuta e troca de experiências, reafirmando o compromisso de seguir os ensinamentos do nhandereko, com atenção especial ao fortalecimento dos roçados e da produção de alimentos.

“É importante escutar os mais velhos e também dar voz aos jovens. Assim, seguimos juntos, sem esquecer quem somos e de onde viemos”, destacou Severino Ramires, jovem liderança Guarani.

O encontro foi avaliado como muito positivo pelas lideranças, que ressaltaram a importância de promover mais momentos como esse, para que os jovens continuem aprendendo e valorizando os saberes Guarani, mantendo viva a espiritualidade, a coletividade e o cuidado com a terra.

“Cuidar do plantio é cuidar da vida, da nossa força e da nossa continuidade como povo Guarani”, afirmou Timóteo Popygua, durante o encerramento do encontro.