Indígenas Guarani na TI Tarumã (SC) sofrem novo ataque: tiros são disparados contra comunidade
Mais uma vez, no litoral norte de Santa Catarina, onde localiza-se a aldeia Ka’aguy Mirim Porã, T.I Tarumã, no município de Araquari, indígenas Guarani são alvo de perseguição, ameaças e outras violências por parte de caçadores, madeireiros, desmatadores ilegais, grileiros e outros violadores de direitos indígenas. Desta vez, a denúncia trazida pelo Cacique Vilson Moreira aconteceu no dia 14 de novembro, quando retornavam para casa, à noite, do trabalho.
Segundo ele, a comunidade ouviu tiros disparados por arma de fogo e um dos animais da aldeia estava ferido. No boletim de ocorrência, Vilson destaca que:
“Ao chegar em casa após o trabalho na adeia Ka’aguy Mirim Porã (T.I Tarumã), ouvimos disparos de arma de fogo, e encontramos um dos cachorros da aldeia feridos por arma de fogo”.
Foram retiradas quatro balas de espingardas de pressão de um dos animais. Para Vilson, essa violência precisa de atenção urgente das autoridades. Ainda no boletim de ocorrência, ele ressalta que:
“Estes incidentes de disparos já ocorreram outras vezes, e a comunidade já solicitou fiscalização, e proteção dos órgãos competentes. A comunidade se sente ameaçada e está em alerta, por conta destas ameaças, e pessoas estranhas circulando dentro da Terra Indígena, a comunidade tem medo de ser atingida por estes disparos e se sentem ameaçados”.
Em um documento encaminhado especialmente ao Ministério Público Federal, à Polícia Federal, Ministério dos Povos Indígenas, Fundação Nacional dos Povos Indígenas, os Guarani solicitam urgência no trâmite do processo de homologação desse território, além das medidas urgentes de proteção.
O Cacique também detalha que os Guarani sofrem constantemente com violências verbais e são ameaçados ao adentrarem em seu próprio território originário.
“Todas essas violências são formas de intimidação, fazem isso para chamar atenção. Feriram um animal e temos medo que possam ferir nossas famílias, as crianças, podem atirar em nós”, destacou a liderança.
Violências já foram registradas em outros momentos
Em matéria divulgada pelo Conselho Indigenista Missionário em março de 2022, quando a comunidade “sofreu com a queima da casa de reza, moradia, instrumentos e objetos de importância espiritual”, foi destacado já naquele momento que a comunidade enfrentava ofensivas graves.
Apesar de enfrentar um processo de reintegração de posse na Justiça Estadual, a TI Tarumã é uma Terra Indígena declarada há mais de 12 anos: em 2008, os estudos de identificação e delimitação da TI foram aprovados por relatório da Fundação Nacional do Índio (Funai) e, em 2009, ela teve sua portaria declaratória publicada pelo Ministério da Justiça. A aldeia Ka’aguy Mirim Porã, surpreendida pelo ataque na semana passada, é um dos três núcleos que compõem a TI. – diz a matéria.
Além disso, segundo destacado pelo Cimi, a Terra Indígena Tarumã “enfrenta, nos últimos anos, um aumento da pressão por empreendimentos, como a instalação de uma fábrica da BMW”.
Cléber Buzatto, do Conselho Indigenista Missionário Regional Sul, equipe Florianópolis, manifesta solidariedade em nome do Cimi à comunidade Guarani de Araquari e cobra das autoridades uma efetiva segurança. “Os Guarani da TI Ka’aguy Mirim Porã são vítimas recorrentes das ações de violências e esbulho territorial. Assegurar a sua proteção é garantir um direito constitucional e impedir que outras violações e crimes sejam praticados contra eles”, finalizou.
Jornalista, militante da Pastoral da Juventude do Meio Popular (PJMP).
Conselho Indigenista Missionário.