Lendo agora
População 50+: uma variável contemporânea da equação civilizatória?

População 50+: uma variável contemporânea da equação civilizatória?

Paula Andrea Grawieski Civiero
blank

Recorrentemente temos falados que o desenvolvimento tecnológico não faz sentido se não for em prol do ser humano, o que abrange o cuidado com o bem comum, o planeta Terra, sua biodiversidade e sua geodiversidade. Nesta perspectiva, a ética, a ecologia, a economia, a distribuição de renda, a educação, o emprego, a fome – e tantas outras questões precisam fazer parte da formação e da reflexão da sociedade e, sobretudo, daqueles que se propõem a planejar, projetar e desenvolver tecnologia.

Morais (1978 apud Simões, 2002) ainda aponta outro aspecto pertinente relacionado a este tema: a desigualdade de distribuição dos benefícios da tecnologia. E, aponta para a necessidade de uma reflexão crítica que gere uma transformação verdadeira, qualitativa, em que a criatividade humana se sobressaia.

Diferentemente da perspectiva do crescimento econômico, que vê o bem-estar de uma sociedade apenas pelos recursos ou pela renda que ela pode gerar, a abordagem de desenvolvimento humano procura olhar diretamente para as pessoas, suas oportunidades e capacidades. Ou seja, a renda é vista como um dos meios do desenvolvimento e não como seu fim. O foco é transferido do crescimento econômico, do desenvolvimento tecnológico ou da renda, para o ser humano; partindo do pressuposto de que para aferir o avanço na qualidade de vida de uma população é preciso ir além do viés puramente econômico e considerar outras características sociais, culturais e políticas que influenciam a qualidade da vida humana (PNUD, 2012).

Diante desta concepção, surge uma discussão muito interessante, embora nada agradável – a exclusão da população 50+ do mercado de trabalho.

Uma pesquisa da empresa Ernst & Young e a agência Maturi de 2022, realizada em quase 200 empresas no Brasil, mostrou o perfil do mercado de trabalho para pessoas com mais de 50 anos. A maioria das companhias pesquisadas tem de 6% a 10% de pessoas com mais de 50 anos em seu quadro funcional. Segundo o estudo, 78% das empresas consideram-se etaristas e têm barreiras para contratação de trabalhadores nessa faixa de idade (Agência Brasil, 2023).

Contudo, o desemprego nessa idade chama ainda mais atenção. Segundo os últimos números divulgados pela empresa IDados, consultoria especializada em análise de dados e soluções para aumentar o impacto e produtividade, em 2012, o número de desempregados acima de 50 anos era de 508,9 mil pessoas. Atualmente, são aproximadamente 1,4 milhão de pessoas em busca de oportunidade de trabalho.

Infelizmente muitas pessoas acreditam que, quem tem 50 anos ou mais, parou no tempo, perdeu a agilidade física e intelectual e, principalmente, que não domina, tem medo ou resistência a tecnologia. Isso faz com que esse público, mesmo o altamente qualificado, só se depare com vagas de trabalho não condizentes com sua formação e experiência.

No caso das mulheres, essa dificuldade se inicia até antes dessa idade. E, de acordo com especialistas, esses efeitos são ainda mais intensos no caso de mulheres pretas, que também precisam lidar com questões misóginas e racistas.

Outra situação muito comum, é o profissional 50+ ser considerado excessivamente qualificado para vaga, com currículo muito expressivo e, por consequência, impagável. Ainda há aqueles casos em que a recusa ocorre pelo fato dos líderes ou entrevistadores, serem muito jovens e se sentirem ameaçados por ter uma pessoa mais experiente no quadro da empresa, sem levar em consideração a oportunidade de ter um profissional que agregue grande valor ao negócio.

Mas será que todos esses pensamentos realmente correspondem a verdade? São as pessoas 50+ de fato tão desconectadas, amedrontadas, desqualificadas e exigentes com relação a remuneração? E os jovens, são de fato tão ágeis, concentrados e positivamente conectados?

See Also
blank

Difícil responder essas questões, afinal, há casos e casos.

Entretanto, não é difícil afirmar que o perfil do profissional com mais de 50 anos em geral tem maturidade, foco no trabalho e experiência profissional e/ou de vida. Normalmente, pessoas com esta idade já têm filhos criados, residência fixa e, quando recolocados, valorizam muito a oportunidade que têm, sendo um exemplo para os demais.

Ainda assim, mesmo sendo contra a lei colocar um limitador de idade em anúncios de contratações de trabalho, as empresas podem fazer isso de forma indireta. Tornando assim, uma grande parcela da população 50+ uma variável contemporânea importante a ser considerada na equação civilizatória; haja vista que esta é uma metáfora que trata com mais veemência, profundidade e detalhamento os problemas atuais, sem o rigorismo teórico e acadêmico em si. Ou seja, é uma possibilidade de se pensar o todo, o complexo tecido social, com suas múltiplas variáveis sociais, políticas, econômicas, ambientais.

Apesar de sabermos que esta realidade existe e é um ponto nevrálgico, para erradicar o idadismo é necessário fazer profundas alterações na cultura que existe no mercado de trabalho e na sociedade. É preciso prestar atenção nas ações diárias e realizar campanhas, que incentivem a reflexão e mudança de atitude. Ou seja, no fim da história tanto o problema como a solução estão relacionados a educação.

Neste caso, o que nós, educadores, muitos 50+, estamos fazendo para que essa realidade seja alterada?