Quem são os humanos?
A situação no estado do Rio Grande do Sul é de guerra. Quando começa uma guerra, a primeira a tombar é a verdade. De um jeito mais leve, suave e poético, Mário Quintana franqueava “a mentira é uma verdade que esqueceu de acontecer”.
Inacreditavelmente a catástrofe climática não é o único fenômeno a ser enfrentado. Há também uma força coordenada disposta a aumentar o caos com mentiras.
Escrevo este texto enquanto terminamos a semana permeada por imagens de cortar o coração acompanhadas por Fake News criadas em série. Talvez a maior delas seja relacionada à retenção de caminhões pela fiscalização rodoviária.
A grita era porque um caminhão foi retido momentaneamente por excesso de peso, mas depois seguiu viagem. Alguém precisa avisar os propagadores do escândalo que as regras de trânsito, criadas por uma questão de segurança, não foram revogadas.
Quando se jogou luz sobre o assunto, constatou-se que passaram pelo posto de fiscalização 7.928 caminhões. Deste total 06 (seis) foram retidos momentaneamente e NENHUM foi multado. Fazendo as contas, os caminhões parados representam 0,075% do total. E que se diga: todos seguiram viagem depois.
A pausa temporária foi o suficiente para uma malta de raivosos tirar a calça pela cabeça e disparar mentiras pelas redes sociais. Até o Governador do estado de Santa Catarina encontrou tempo para mentir solenemente e sem constrangimento. Essas figuras todas são movidas pelo ódio e se alimentam de mais ódio, que recebem de seguidores fanáticos.
O ódio não é novo em nosso contexto. A novidade agora é que ele foi transformado em arma política e é cultivado especialmente por um grupo que se autodenomina “pessoas de bem”. Usam o ódio para supostamente fazer o bem.
A pergunta a ser feita neste momento é: quem deu a esses homens tranquilidade moral para inventar mentiras e atrapalhar o socorro às vítimas? Como dormem a noite?
Todas essas ações virulentas carregadas de ódio não são retóricas vazias. A Direita, em geral, e no Brasil, em particular, tem método e propósito.
Está longe o tempo em que se podia justificar falas mentirosas e absurdas dizendo “ele é assim mesmo, um sincerão, fala o que pensa e acaba dizendo essas coisas”. Estes argumentos cimentaram comportamentos racistas, homofóbicos, xenófobos, golpistas e outros igualmente criminosos.
Neste momento, a máquina de produzir mentiras está empenhada em atrapalhar o máximo possível o resgate de seres humanos. E se por acaso alguém morrer por isso? “E daí? Não sou coveiro”.
O ódio é um dos legados que herdamos de um movimento político nefasto. A parte mais ousada que nos cabe agora é a de resgatar nossa dimensão humana suplantando a tragédia que assola nossos irmãos gaúchos. Tomara que, pelo menos para isso, a desgraça nos ensine.
Professor aposentado Rildo Edson Lazarotto. Mestrado em Economia e Desenvolvimento Econômico pela Universidade Federal do Paraná. Tema da dissertação: “Distribuição de Renda no Brasil, uma análise pós Plano Real”.