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Kanhgág, retomada Fág Tentu, Três Pinheiros: caminhos pela vida

Kanhgág, retomada Fág Tentu, Três Pinheiros: caminhos pela vida

Roberto Liebgott
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A Retomada Kaingang – Kanhgág Coroado , Fág Tentu, Três Pinheiros, em Campo Bom, Rio Grande do Sul, ocorrida no dia 28 de agosto de 2024, é, de acordo com lideranças indígenas, um movimento natural pela defesa da vida, da terra e das famílias que precisam de áreas para constituir seus espaços de moradia e exercer os seus modos tradicionais de ser.

José Vergueiro, uma das lideranças, disse que a Terra está toda sendo tomada, que não há mais os lugares sagrados, tudo foi destruído pela ganância dos brancos. Segundo ele, na natureza sobraram pequenos restinhos, que se não forem cuidados por nós vão sucumbir, desaparecer.

Dona Salete, mulher forte, lembra que os Kaingang sempre foram assim, que nunca ficam no mesmo lugar, precisam se movimentar pra formar suas famílias e garantir que a cultura e as tradições se fortaleçam. Que eles não suportam viver sob ambientes onde as liberdades e os jeitos de serem acabam substituídos pelas violências trazidas pelos brancos.

Dona Salete, mulher forte, lembra que os Kaingang sempre foram assim, que nunca ficam no mesmo lugar. Foto: Roberto Liebgott/Cimi Sul.

Dorvalino diz que a vida dos Kanhgág, que foram denominados de Kaingang pelos brancos, são guiados pelos mais velhos e pelos Kujã, que a palavra e a espiritualidade deles dão a direção e tem valor. Segundo Dorvalino, esses movimentos de retomadas , de ocupação das terras pelos Kanhgág, são orientações vindas em conversas e sonhos dos mais velhos, por isso eles percorrem esses caminhos pela vida.

Dorvalino diz que a vida dos Kanhgág, que foram denominados de Kaingang pelos brancos, são guiados pelos mais velhos e pelos Kujã. Foto: Roberto Liebgott/Cimi Sul.

A retomada Fág Tetu, em Campo Bom, fica dentro de um espaço público que é de propriedade do Estado do Rio Grande do Sul. Segundo os indiegnas, a área têm aproximadamente 15 hectares, onde há os prédios de uma Escola Estadual – Quatro Colônias – abandonada e sendo deteriorada pelas intempéries do tempo. Os Kaingang lembraram com tristeza que no período das enchentes, quando não havia lugar para abrigarem pessoas, naquela escola abandonada existem inúmeras salas vazias e uma quadra de futebol enorme e coberta, onde poderiam ter acolhido dezenas e dezenas de famílias.

A comunidade Kanhgág, aguarda que a Fundação Nacional dos Povos Indígenas- Funai e os demais órgãos, responsáveis pela assistência e pela regularização fundiária atuem no sentido de assegurar os seus direitos. Foto: Roberto Liebgott/Cimi Sul.

Há, numa parte da área, uma clínica veterinária, administrada pelo município de Campo Bom, onde prestam assistência aos animais domésticos e realizam castrações.

Os Kanhgág buscam, com essa retomada, assegurar uma espaço para viver e continuar trabalhando na confecção e comercialização de seus artesanatos. Eles pedem, de imediato, o fornecimento de água potável, que no momento está em falta, embora tenha havido a visita dos técnicos de saneamento básico da Secretaria Especial de Saúde Indígena – Sesai, para averigaur a situação, quando se comprometeram em religar a água no local.

Os Kanhgág também requerem do Ministério dos Povos Indígenas- MPI, que as condições postas no Termo de Cooperação, assinado, em 31 de agosto de 2024, entre o Estado do Rio Grande do Sul e o Governo Federal – através do qual se busca resolver as demandas fundiárias das comunidades que ocupam áreas do Estado – se estendam para essa retomada.

A luta pela garantia da terra não se limita aos espaços tradicionalmente rurais ou dentro das grandes florestas, ela também alcança as parcelas de áreas onde, guiados e guiadas pelos sonhos. Foto: Roberto Liebgott/Cimi Sul.

A comunidade Kanhgág, aguarda que a Fundação Nacional dos Povos Indígenas- Funai e os demais órgãos, responsáveis pela assistência e pela regularização fundiária atuem no sentido de assegurar os seus direitos. Também requer que o Ministério Público Federal acompanhe, defendendo-a perante os órgãos da administração pública e de uma eventual demanda judicial.

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A luta pela garantia da terra não se limita aos espaços tradicionalmente rurais ou dentro das grandes florestas, ela também alcança as parcelas de áreas onde, guiados e guiadas pelos sonhos, pelas memórias e ancestralidades, fortalecidos pela religiosidades e espiritualidades, num movimento corajoso dos corpos, geram esperança por justiça e pelo Bem Viver a todas e todos os seres.

 

Roberto Liebgott

Cimi Sul-Equipe Porto Alegre.