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Crianças indígenas são vítimas de racismo durante celebração do Dia das Crianças em Mato Castelhano (RS)

Crianças indígenas são vítimas de racismo durante celebração do Dia das Crianças em Mato Castelhano (RS)

Ivan Cesar Cima
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Em pleno Dia das Crianças, comemorado no último domingo (12), a Articulação dos Povos Indígenas da Região Sul (ARPINSUL) denunciou um episódio de discriminação e racismo ocorrido no município de Mato Castelhano, no Rio Grande do Sul. O caso aconteceu no dia 10 de outubro, durante uma atividade organizada pela prefeitura municipal em celebração à data.

De acordo com relatos das famílias, crianças indígenas foram impedidas de participar das atividades lúdicas promovidas no centro da cidade. Elas teriam sido barradas no transporte público e privadas do acesso aos brinquedos e presentes distribuídos no evento. Segundo os depoimentos, o motorista de uma van e uma professora afirmaram que: “os brinquedos eram só para as crianças da cidade”.

Mobilização realizada hoje, segunda-feira. Foto: Lideranças Terra Indígena Mato Castelhano.

Além da recusa ao transporte, as mães relataram terem sido tratadas de forma desrespeitosa e desigual por alguns servidores municipais, o que reforçou o constrangimento e o sentimento de exclusão vivenciado pelas crianças indígenas.

Em resposta ao episódio, os Kaingang da Terra Indígena Mato Castelhano realizaram, na manhã desta segunda-feira (14), uma manifestação em frente à Prefeitura Municipal. Foto: Lideranças Terra Indígena Mato Castelhano.

Em resposta ao episódio, os Kaingang da Terra Indígena Mato Castelhano realizaram, na manhã desta segunda-feira (13), uma manifestação em frente à Prefeitura Municipal. O ato teve como objetivo exigir respeito às crianças indígenas, denunciar o racismo institucional e cobrar medidas concretas das autoridades locais para que situações como essa não se repitam.

As lideranças Kaingang da Terra Indígena Mato Castelhano, composta por quatro comunidades e cerca de 130 famílias, manifestaram profunda indignação e revolta diante do ato racista ocorrido. Destacam que as comunidades Kaingang estão mobilizadas, exigindo justiça, reparação e a responsabilização dos agentes que cometeram este crime contra as crianças e todas as comunidades. Conforme relatado, ao final da mobilização as lideranças Kaingang protocolaram um documento junto à Prefeitura Municipal e Brigada Militar reivindicando respeito, o fim de práticas discriminatórias e a inclusão efetiva das famílias Kaingang nas programações públicas e no orçamento municipal.

Também, destacaram que foram enviados documentos ao Ministério Público Federal, à Comissão de Direitos Humanos do Estado do Rio Grande do Sul e ao Conselho Estadual dos Povos Indígenas do RS. Ainda, as lideranças cobram que o governo federal agilize a demarcação da Terra Indígena Mato Castelhano, procedimento administrativo que permanece sem movimentação por parte do Executivo, alertando que a demora na garantia dos direitos territoriais perpetua a vulnerabilidade e o desrespeito aos povos indígenas.

Foto: Lideranças Terra Indígena Mato Castelhano.

Em nota pública, a ARPINSUL repudiou veementemente o ocorrido, classificando-o como uma manifestação de racismo e preconceito que atinge diretamente as infâncias indígenas. A entidade destacou que atitudes como essa perpetuam práticas coloniais e violam a dignidade das crianças.

“As crianças indígenas merecem ser tratadas com o mesmo respeito e cuidado que todas as outras. Elas são portadoras de sabedoria e esperança para o futuro. Nenhuma criança deve ser privada de brincar, sorrir e celebrar por causa de sua origem ou identidade”, afirmou a organização.

A ARPINSUL também cobrou providências do poder público e da sociedade, ressaltando que o caso deve servir de alerta para a necessidade de combater o racismo estrutural que ainda afeta as comunidades indígenas em todo o país.

“Nenhuma infância deve ser marcada pela dor do preconceito”, conclui a nota.

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Veja na íntegra a nota:

O Conselho Indigenista Missionário – Regional Sul (Cimi Sul) expressou solidariedade à comunidade Kaingang, especialmente às crianças atingidas pelo episódio. O Cimi Sul manifesta indignação diante do ato discriminatório e requer que o Ministério Público Federal (MPF) adote as medidas cabíveis para investigar o caso e responsabilizar os agentes públicos envolvidos. A omissão diante de práticas racistas contribui para a perpetuação da violência e da exclusão contra os povos indígenas.