Fascistas utilizam notícias falsas como ferramenta para estimular conflitos entre indígenas e não indígenas
Uma das principais ferramentas da antipolítica do governo de Jair Messias Bolsonaro, desde o início de sua atuação como presidente do Brasil, são as notícias falsas. Exemplo disso foram os primeiros 905 dias de governo, em que o líder das Fake News espalhou uma média de 3,6 mentiras por dia, segundo o levantamento feito pelo site Aos Fatos, que atua na verificação desses dados. As declarações ultrapassaram a marca de 3.326 vezes, de 2019 a 2021, em que Bolsonaro utilizou declarações falsas em seus discursos.
A prática da mentira se fortaleceu e criou-se uma grande empresa familiar nas relações de Bolsonaro, responsável por disseminar notícias falsas no país. A imprensa internacional passou a reportar os crimes cometidos pelo conglomerado Bolsonaro. Os filhos Flávio, Eduardo e Carlos Bolsonaro foram mencionados no relatório final da CPI da Pandemia e acusados de, por meio de suas campanhas mentirosas, agravarem o contágio da covid-19, que fez com que mais de 700 mil brasileiros viessem a óbito. A organização com base nas notícias falsas, segundo a CPI, foi denominada como “oculta e complexa”.
Porém, o gabinete do ódio, como também foi denominada a organização da família Bolsonaro sobre as notícias falsas, tem intensificado a prática da mentira, especialmente neste ano de 2022, período de eleições presidenciais no Brasil. No último dia 02 de outubro, 48,43% dos/as brasileiros/as, ou seja, 57.259.504 destinaram seu voto ao candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Por outro lado, Jair Bolsonaro (PL) recebeu 43,20%, somando 51.072.345 votos, levando os dois candidatos a disputarem o segundo turno no próximo dia 30 de outubro.
A preocupação de Bolsonaro com a possibilidade real de perder as eleições no segundo turno tem gerado um aumento gigantesco de notícias falsas, tomando proporções sérias e graves. Nos três estados do Sul, Bolsonaro possui preferência na intenção de votos. No primeiro turno o Rio Grande do Sul votou 48,89% em Bolsonaro e 42,28% em Lula. No Paraná foram 55,26% para Bolsonaro e 35,99% para Lula e em Santa Catarina, 62,21% para Bolsonaro e 29,54% em Lula.
Movimento político de disseminação de notícias falsas
O Conselho Indigenista Missionário, Regional Sul, divulgou nesta semana um áudio, que circula pelos grupos de WhatsApp e reforça o pedido de atenção das comunidades tradicionais, indígenas, quilombolas, não indígenas, dos movimentos e pastorais sociais e grupos diversos, para que tomem cuidado com as notícias falsas disseminadas e que buscam, segundo o membro do CIMI, Roberto Antonio Liebgott, incentivar os conflitos entre os povos nos territórios e as populações locais.
Conforme Roberto, em um momento tão decisivo da conjuntura brasileira, as notícias que estão sendo difundidas, em diversos grupos no Sul do país, são falsas, mentirosas e compõe um movimento de tensionamento, o qual tem como um dos objetivos causar pânico e medo na população. “O que temos percebido é que as informações falsas, que estão movimentando o Sul do país, têm como característica jogar a população local contra a comunidade indígena, quilombola e Sem-Terra, especialmente. Entendemos que esse é um movimento político em apoio à candidatura de Bolsonaro, um candidato cuja história conhecemos bem e é guiada pelo discurso de ódio e propagação da violência”.
Roberto menciona que no ambiente eleitoral as informações falsas divulgadas propõem o conflito entre os pequenos. “Eles dizem que há uma movimentação indígena, quilombola, para retirada das pessoas de suas terras, casas, do seu trabalho. Mas isso é mentira. É preciso que a gente tenha serenidade, tranquilidade e discernimento para entender esse ambiente e não o tornar mais violento. Sabemos que o movimento das notícias falsas tem como fundamento a eleição de Bolsonaro e pretende impor a desarmonia. Nós precisamos contrapor essa lógica e seguir construindo a paz, a esperança e a harmonia”, refletiu.
CIMI denunciou notícias falsas sobre vacinação nas comunidades indígenas
Em fevereiro de 2021 publicamos uma matéria em que o Conselho Indigenista Missionário entendia a prática da disseminação de notícias falsas como: grave. Naquele momento, em entrevista para a rádio Sputinik, Roberto Antonio Liebgott trouxe como exemplo a região amazônica, onde 71% dos indígenas não teriam sido vacinados, isso porque, as mentiras divulgadas sobre a vacina, propagadas via estado brasileiro, representado na figura de Bolsonaro, fez com que os indígenas tivessem receio quanto à eficácia da vacina.
Mas não era apenas sobre a eficácia. Liebgott ressaltou na ocasião que a informação sobre a transformação do modo de vida dos povos indígenas a partir da vacina, também motivou a falta de imunização nas aldeias amazônicas. “Em algumas mensagens se podia identificar a informação de que, aqueles que fossem vacinados teriam uma vida muito curta e com muito adoecimento, que levaria à morte prematura. Em outras mensagens, o conteúdo dizia que aquele que fosse vacinado perderia a fertilidade e, mais do que isso, em determinadas mensagens, tinha-se a informação de que as pessoas mudariam inclusive de sexo, que homens se tornariam mulheres e mulheres se tornaria homens”, disse.
Outro elemento destacado por Liebgott em relação a essa indústria da mentira, foi o dado propagado de que as pessoas se tornaram animais, neste caso, jacarés. Por mais que pareça mera “piada”, o missionário aponta que esse elemento é aceitável já que, na cosmologia indígena, essa pode ser uma possibilidade marcante. “Nas cosmovisões indígenas a transformação de um homem para um outro ser, nos seus simbolismos, ela é perfeitamente possível. Por isso também, teve a disseminação generalizada entre comunidades indígenas de Sul a Norte do país”, explicou.
Ele trouxe presente ainda o que denomina “problema de origem”, para tratar da baixa cobertura vacinal. “Qual é o problema? A negação por parte do estado através dos seus governantes, do presidente da república, de seu ministro e de toda equipe que está por trás dessas figuras, de impor à sociedade como um todo, não só aos povos indígenas, mas de impor uma sensação de insegurança diante da vacina. O governo federal é negacionista e essa sua postura é que vem comprometendo todo o processo de imunização no país. A gente tem que, numa análise primeira, levar em conta essa concepção do governo brasileiro, que coloca em dúvida primeiro: a eficácia da vacina. Segundo: propõe que as pessoas não se vacinem e terceiro: a disseminação de mentiras acerca das consequências desse processo de vacinação. Então, esse é o problema de origem”, argumentou.
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Jornalista, militante da Pastoral da Juventude do Meio Popular (PJMP).