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Formação da Região Sul da Rede Nacional de Proteção reúne Jornalistas e Comunicadores/as em Chapecó/SC

Formação da Região Sul da Rede Nacional de Proteção reúne Jornalistas e Comunicadores/as em Chapecó/SC

Claudia Weinman
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O encontro da Região Sul da Rede Nacional de Proteção de Jornalistas e Comunicadores, do Instituto Vladimir Herzog, aconteceu em Chapecó (SC), nos dias 24 e 25 de junho de 2025. Pela primeira vez, o interior do estado catarinense recebeu jornalistas, comunicadores/as populares e apoiadores/as da Rede em outras frentes, vindos/as dos estados do Rio Grande do Sul, Paraná, Minas Gerais, São Paulo, além de representações da Capital e do Extremo-oeste de Santa Catarina.

Foto: Paulo Fortes/Coletivo PJMP/PJR.

Entre os temas dialogados nos dois dias de formação, permaneceram no centro do debate a – Comunicação Popular e Comunitária, Saúde Mental, Bem-Estar Psicólogo, Autocuidado e Cuidado Coletivo e a Proteção Jurídica e Assédio Judicial. Momentos de troca de saberes, experiências e partilha de vida e profissão também aconteceram.

Gizele Martins trabalhou o tema sobre a Comunicação Popular e Comunitária, além de falar sobre a realidade onde vive, a favela da Maré, no Rio de Janeiro. Foto: Claudia Weinman/A Fronte Jornalismo.

A terça-feira pela manhã teve início com a presença Guarani do Grupo de Canto e Dança Ara Poty e a exposição de artesanatos do Cacique Karai Jejua (Aniceto Gonçalves) e sua companheira Kerexu Mirim (Natália Ferreira), da comunidade Ara Poty, de Chapecó/SC.

Foto: Claudia Baumgardt/A Fronte Jornalismo.
Grupo de Canto e Dança Ara Poty. Foto: Claudia Weinman/A Fronte Jornalismo.

Os indígenas que vivem nesse território vieram de São Miguel das Missões, terra de Sepé Tiaraju, referência histórica que liderou os Sete Povos das Missões e lutou na defesa de seu povo contra o Tratado de Madri e o assassinato Guarani. Os Guarani, que viviam em São Miguel das Missões, habitavam uma área comprada ainda pelo governo de Olívio Dutra no início dos anos 2000. Por ser uma cidade histórica, a presença não indígena sempre foi constante e nos últimos anos, segundo as lideranças indígenas, têm interferido sistematicamente na vida e cultura dos Guarani. Se fez necessário a busca por um lugar onde pudessem viver sua ancestralidade e garantir que sua cultura, seu jeito de viver e sua língua – Guarani, fosse preservada. Os mais velhos tiveram essa visão e sonharam com um novo território. Quando se diz: “sonharam”, é no sentido literal da palavra, tiveram mesmo essa visão e colocaram-se em busca até chegarem a Ara Poty, nome batizado por eles e que significa: Flor do Dia, em homenagem a anciã Miguela Escobar, que ensina os mais novinhos a produzirem comida sem veneno e repassa pacienciosamente seus saberes ancestrais.

A presença histórica desse grupo na Formação Sul da Rede Nacional de Proteção à Jornalistas e Comunicadores é simbólica, uma vez que, os ataques contra os povos indígenas por meio da tese genocida do Marco Temporal, por exemplo, interferem diretamente em toda organização de vida do povo brasileiro.

MOMENTO SIMBÓLICO

Barbara Rosa Cruz Bergamine é Analista de Projetos da Rede Nacional de Jornalistas e Comunicadores, Educadora, Comunicadora Popular e Mãe. Ela é uma das pessoas que esteve à frente dos trabalhos da formação na Região Sul e por isso, avalia o momento como sendo – simbólico – para a continuidade da construção da Rede de Proteção nesse território.

Barbara Rosa Cruz Bergamine. Foto: Arquivo pessoal.

“Estar presente na Formação Regional Sul, representando o Instituto Vladimir Herzog foi um momento simbólico e muito especial para mim, como mulher negra, comunicadora e defensora do direito à informação livre e segura. Esse encontro marcou a finalização de um ciclo potente de formações presenciais realizadas ao longo dos últimos dois anos em todas as regiões do país. Chegar ao Sul do Brasil, depois de passarmos pelo Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste, foi também levar para os territórios mais ao Sul a mesma potência de conteúdo, escuta e articulação que vivenciamos em outros cantos do Brasil. A Rede tem o compromisso de atuar de forma descentralizada, reconhecendo as especificidades de cada território, e é justamente por isso que esses encontros são tão essenciais: eles nos permitem olhar no olho, fortalecer vínculos e construir estratégias coletivas de proteção e comunicação”.

Barbara sinalizou ainda que existe uma linha importante que une a comunicação em todo o país: “O desejo de transformar a realidade de comunicadores e comunicadoras populares, jornalistas e ativistas da palavra que atuam na linha de frente da defesa de direitos. Não estamos falando apenas de capacitação, mas de criar espaços seguros, de reconhecimento mútuo, de fortalecimento político e afetivo”, disse.

Ela finalizou citando as resistências presentes no território do Sul brasileiro.

“O Sul nos recebeu com muita força. Vimos o quanto há resistência e também desafios específicos na comunicação feita nas periferias e territórios indígenas e quilombolas da região. Por isso, finalizar esse ciclo por aqui foi também um gesto de escuta e de respeito. Saímos desse encontro ainda mais comprometidos com a continuidade do nosso trabalho em rede, atentos às vozes locais e animados com as possibilidades que nascem quando juntamos nossos passos. Seguimos com a certeza de que a comunicação é ferramenta de cuidado, denúncia, construção e memória e que proteger quem comunica é proteger a democracia”.

A ARTE COMO ENFRENTAMENTO

Trovador Pedro Pinheiro, na apresentação da noite de 25 de junho, em Chapecó/SC. Foto: Claudia Weinman/A Fronte Jornalismo.

Chapecó, cidade onde o encontro da Rede foi realizado, é parte do Oeste Catarinense e de um território contestado – marcado pela resistência cabocla, indígena, do povo negro e de toda uma diversidade que envolve movimentos sociais e organizações populares. A palavra “contestado”, também se refere ao genocídio que ocorreu há mais de cem anos, com a desocupação forçada da faixa de terras com mais de trinta quilômetros de largura entre os estados do Paraná e Santa Catarina para a construção da estrada de ferro pensada para ligar o estado de São Paulo ao Rio Grande do Sul, e que resultou no massacre caboclo. Foram mais de 20 mil corpos tombados.

Foto: Claudia Baumgardt/ A Fronte Jornalismo.

Ligadas a esse tema, as canções do Trovador e professor de história, Pedro Pinheiro, fizeram parte do momento cultural e político, da noite de quarta-feira, dia 25.  A partir das composições autorais e da apresentação do álbum: “Um outro olhar do Sul”, o músico mostrou um trabalho guiado por realidades que não aparecem no plano tradicional das canções do Sul do Brasil, manifestando a vida a partir dos invisíveis. Segundo ele, esse álbum conta um pouco da história do Sul do Brasil. “Falamos da história, mas não de maneira ufanista como temos ouvido nas músicas cotidianamente. A ideia é uma releitura crítica, uma análise de algumas coisas, fatos que acontecem na região Sul do país”.

ENCONTRO NACIONAL

Ainda, durante o encontro da região Sul, aconteceu a Reunião Regional, no formato híbrido, coordenada pelo jornalista Dyego Pegorario, com a apresentação do Panorama das Diretrizes e preparação para o Encontro Nacional que acontecerá entre os dias 24 e 25 de setembro, em Salvador/BA.

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Reunião Regional aconteceu no formato híbrido. Foto: Claudia Weinman/A Fronte Jornalismo.

 CIRANDA 

Durante os dias de formação, a Rede de Proteção garantiu a presença de uma profissional para trabalhar atividades pedagógicas com as crianças. A professora Keila Kleinert esteve à frente dos trabalhos para que as mães pudessem participar das atividades da semana.

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