O processo civilizatório e os desafios contemporâneos
A escolha da conversa deste mês vincula-se à compreensão de que nosso papel enquanto educadores – formais e não formais -, é de provocadores de ideias, curiosidades e perguntas. E de que, isso só será possível, se aguçarmos e motivarmos na comunidade escolar, a compreensão do mundo e percebermos o conteúdo escolar como reflexo da realidade, deste mesmo mundo.
Sob esta perspectiva, temos a intenção de promover reflexões sobre a sociedade contemporânea, seus desafios e limites, mas também de indicar uma perspectiva crítica, que traga para a sala de aula, bem como para outros espaços de formação, a realidade; para que, por meio dela, possam ser discutidas e promovidas formas de apropriação de conhecimentos que auxiliem na compreensão do mundo. Afinal, se o conhecimento, não estiver a serviço do processo civilizatório, e não zelarmos por ele, poderá ficar a serviço da barbárie e virar arma de destruição.
Nesta perspectiva, Arroyo (2006) é muito assertivo quando nos diz que o conhecimento da ciência, da tecnologia, da própria história através da história, do espaço, das artes, da cultura e das identidades, sempre foi o meio para entendermos melhor e mais facilmente, sermos gente, humanos.
Diante disso, é inexorável que nos questionemos: quais conhecimentos e posicionamentos são imprescindíveis aos professores de todos os níveis de ensino, bem como aos educadores populares, para enfrentar os desafios da sociedade contemporânea?
A questão é complexa e não temos prontamente a resposta. Mas, entendemos que quando o conhecimento se articula a um projeto de educação, ele torna-se um poderoso instrumento de intervenção social, mas para isso, as várias nuances do processo civilizatório e das variáveis que determinam a equação civilizatória em curso, devem estar minimamente discutidas e descortinadas.
Por isso, consideramos urgente que educadores e toda a sociedade reflitam e parem de negar que hoje, em pleno século XXI, vivenciamos a fusão das tecnologias e a interação entre os domínios físicos, digitais e biológicos que apresentam novas possibilidades e, em igual medida, novos dilemas. E que, ao observar a escala e o escopo das mudanças tecno científicas, bem como a intensidade da sua influência, o respeito à sua autoridade e a participação em seu funcionamento, percebemos que estamos em um período desafiador para o futuro da humanidade. E, por isso, precisamos realizar, dentro das salas de aulas e fora delas, discussões acaloradas sobre as implicações sociais da ciência e da tecnologia na sociedade contemporânea e sobre o papel social da educação neste cenário.
Para aguçar o entendimento sobre esse tema, sugerimos o podcast “O processo civilizatório e os desafios contemporâneos”, no qual Walter Bazzo e Paula Civiero, provocados por Ricardo Velho, discutiram a premência de mudar de rumo do processo civilizatório. Este material está disponível em https://castbox.fm/vb/292628771
A discussão no podcast é realizada, justamente, a partir das preocupações sobre o papel da educação frente a esse processo civilizatório contemporâneo.
Os autores debatem a respeito de uma proposta de compreensão da realidade por meio de uma equação civilizatória, idealizada por Bazzo (2016; 2019).
A equação civilizatória, seria uma ferramenta para identificarmos as variáveis contemporâneas que abarcam questões técnicas e humanas, bem como o desenvolvimento tecno científico em diferentes graus, de modo a trazer à tona os desafios humanitários mais urgentes que nosso mundo enfrenta e, a partir deles, compreender a realidade.
A teoria também pauta-se na premissa, de que é fundamental identificar as variáveis contemporâneas e buscar compreender, por meio delas, como funciona a sociedade para, assim, poder questioná-la e alcançar uma realidade que garanta, no mínimo, os princípios de dignidade humana.
Ao discutir sobre a equação civilizatória, pretende-se atingir uma categoria de análise que leve as pessoas a compreender, ou ao menos problematizar a realidade e, assim, questionar a sociedade, por meio dos conhecimentos específicos de cada área, ampliados com leituras contemporâneas.
Afinal, vivemos em uma época de perturbações e incertezas que exigem consciência social. Nela, a educação deve se fazer presente com o propósito de desvelar as questões sociais emergentes e provocar a intervenção solidária e humana. Contudo, assumir uma postura crítica na educação exige aprendizado constante e permanente transformação.
Essa é nossa tarefa enquanto educadores?
Temos muitos obstáculos e limites a serem enfrentados, mas se soubermos para onde queremos ir, escolheremos com mais clareza o caminho a ser percorrido.
REFERÊNCIAS
ARROYO, Miguel G. Formar educadoras e educadores de jovens e adultos. In: SOARES, Leôncio. (Org.). Formação de educadores de jovens e adultos. Belo Horizonte: Autêntica, 2006. pp. 17-32.
BAZZO, W. A. Ponto de Ruptura Civilizatória: a Pertinência de uma Educação “Desobediente”. Revista CTS, n. 33, v. 11. set. 2016, pp. 73-91.
BAZZO, Walter A. De técnico e de humano: questões contemporâneas. 3. ed. atual., ampl. – Florianópolis: Ed. da UFSC, 2019.
CIVIERO, Paula A.G.; BAZZO, Walter A.; VELHO, Ricardo S. O processo civilizatório e os desafios contemporâneos. Podcast: Estou viciado, Episódio 3, 2020. Disponível em <https://castbox.fm/vb/292628771> Acesso em 20 de maio de 2021.