Semana Cultural nas Terras Kaingang da Aldeia Conda e Toldo Chimbangue: Memória, Resistência e Luta pelos Direitos Indígenas


A Semana Cultural realizada nas Terras Kaingang da Aldeia Conda e Toldo Chimbangue, no oeste de Santa Catarina, é um espaço de celebração, mas também de resistência. Mais do que um evento, ela representa a luta contínua dos povos Kaingang e Guarani pela preservação de suas tradições, territórios e direitos constitucionais. Em um contexto de ameaças, como o marco temporal, essas atividades culturais ganham ainda mais importância como instrumentos de afirmação identitária e mobilização política.

Os Kaingang e os Guarani são povos originários que habitam a região sul do Brasil há milênios. No oeste catarinense, sua presença é marcada por uma história de expropriação territorial, violência e discriminação. Com a colonização, promovida pelo estado catarinense, esses povos enfrentaram um processo violento de invasões, expulsão e perca de seus territórios, culminando com o avanço exponencial do agronegócio e com a tentativa institucional de apagamento cultural.

Apesar das adversidades, os Kaingang e Guarani mantêm uma resistência ativa, reivindicando a demarcação de suas terras e a garantia de seus direitos. A luta pela terra não é apenas uma questão de sobrevivência física, mas também cultural, pois o território é o espaço onde se reproduzem suas tradições, línguas e modos de vida.
As Semanas Culturais realizadas na Aldeia Conda no período de 14 a 18 de abril e no Toldo Chimbangue, nos dias 22 a 25 de abril, são uma estratégia fundamental para fortalecer a identidade desses povos e transmitir conhecimentos ancestrais às novas gerações. Através de danças, cantos, artesanatos, rituais e contação de histórias, os mais velhos ensinam os mais jovens sobre sua herança cultural.

Esses eventos também são uma forma de resistência simbólica, mostrando que, apesar da pressão da sociedade não indígena, os Kaingang e Guarani continuam vivos e orgulhosos de seus modos de ser e viver. Além disso, as semanas culturais servem como um espaço de denúncia, onde se discute a violência contra os povos indígenas, a criminalização de suas lideranças e a necessidade de políticas públicas que respeitem seus direitos.
Um dos maiores desafios atuais para os povos indígenas é a nefasta tese do marco temporal, que pretende restringir o direito à terra apenas aos territórios ocupados por indígenas em 5 de outubro de 1988, data da promulgação da Constituição Federal. Essa tese, defendida por ruralistas e setores do agronegócio, ignora as expulsões e violências sofridas pelos indígenas ao longo da história e ameaça anular procedimentos de demarcação em andamento.

Os Kaingang e Guarani do oeste catarinense têm lutado contra essa medida, participando de mobilizações e articulações com outros povos indígenas, tanto na região quanto a nível nacional. A Semana Cultural também se torna um palco para essa luta, reforçando que a terra é um direito originário, não uma concessão do Estado.
Por fim, cabe destacar que a Semana Cultural nas Terras Kaingang da Aldeia Conda e Toldo Chimbangue é mais do que uma celebração: é um ato político de resistência. Enquanto os povos indígenas enfrentam ameaças como a do marco temporal e a invasão de seus territórios, eventos como esse reafirmam suas existências, suas culturas e a determinação de lutar por justiça.

Apoiar a causa indígena é defender a diversidade cultural, o meio ambiente e os direitos humanos. Que as vozes dos Kaingang e Guarani ecoem cada vez mais forte, para que suas terras sejam respeitadas e suas culturas, preservadas.

Não ao marco temporal! Demarcação já!
Chapecó (SC), 23 de abril de 2025.
________
Veja mais fotos:
(Por Jacson Santana, Ivan Cesar Cima e Irmã Diva)


Conselho Indigenista Missionário.