Aquilombar e aldear
Expressões de linguagem em tempos onde se busca fortalecer e elevar a participação e os protagonismos indígenas, quilombolas, afroindígenas nas esferas das políticas partidárias.
Expressões de linguagem que pretendem marcar a diferença de perspectivas, de ideais e projetos para um país onde as identidades, as culturas e os modos de ser, viver de povos e comunidades sejam valorizados e respeitados.
Expressões de linguagem, no entanto, não bastam, não resolvem, sequer cabem naquele lugar da política que, precisaria abrigar o exercício de uma cidadania participativa, específica e diferenciada, mas, tão somente gera disputas de interesses excludentes, mesquinhos, pelo poder violentador, por riquezas desmedidas e ideologias de dominação.
Expressões de linguagem não alteram o sistema partidário, já que sua estrutura é planejada e preparada para esmagar, triturar, absorver, embutir e igualar os que lá entram, os que lá permanecem, às vezes durante décadas, quase como se fosse um lugar hereditário.
Expressões de linguagem até tornam palatável e aceitável as ideias e os desejos de militantes ou lideranças de povos, comunidades tradicionais e originárias, bem como de muitos outros que acreditam nos partidos políticos – velhos, novos ou a serem ainda constituídos – como espaços de transformação das realidades de injustiças, do racismo, violências e intolerâncias.
Expressões de linguagem não alcançam a política partidária porque ela é desconectada dos mundos indígenas e quilombolas, onde as lógicas de vida e relações vinculam-se a outras concepções e conceitos, onde os alicerces não são a degradação, a exploração, a depredação, a indiferença e intolerância.
Nas aldeias e nos quilombos as vidas se interligam pelas religiosidades, espiritualidades e ancestralidades, pelas memórias e saberes tradicionais que são transmitidos de geração para geração e onde as pessoas vivenciam a singeleza da partilha, a simplicidade do sorriso, a alegria do afago e da mão sempre pronta a alcançar o outro.
Roberto Antônio Liebgott é missionário do CIMI - Conselho Indigenista Missionário, atuando na região Sul do Brasil.