Inaiê: o início da jornada em busca da humanidade
O despertar de uma nova aurora está chegando. Novas formas de vida e muitos anúncios proféticos são entoados com tamanho ímpeto que fazem a alma mais descrente apropriar-se do discurso e da crença. Essa tendência aparece na história em vários períodos e espaços. É nada mais que o prelúdio do ser humano marcado pela inquietação. Nesse cenário, surge a nossa personagem. Seus pais a batizaram com o nome Inaiê. Sobre o seu sobrenome, encontram-se muitas especulações, mas muitas evidências se perdem na história.
Desde criança, Inaiê perguntava a si mesma e para seus pais sobre o motivo de não saber seu sobrenome. Com o passar do tempo, Inaiê passou a ser questionada pelos seus colegas e amigos. Muitos costumavam fazer chacotas, era conhecida como a menina que não tinha um sobrenome. Em muitas situações, professores, pais e até estranhos encontravam Inaiê chorando e em murmúrios questionando sobre a importância de um sobrenome diante dos novos tempos. Ao buscar consolar a filha, a mãe dizia que tudo iria melhorar, bastava ter paciência, o que a nossa personagem não considerava suficiente. Inaiê questionava sobre o motivo de não ter um sobrenome e parecer invisível para os outros, como se fosse uma estranha contaminada com o pior de todos os vírus existentes. Ela não poderia corresponder às expectativas do mundo por não ter um sobrenome.
Na história de Inaiê e de muitos, o despertar de uma nova aurora é interrompido pelo despertar do pensamento. Quando isso ocorreu com a nossa personagem, ela parou de perguntar sobre o seu sobrenome, descobrira que o novo era apenas o discurso de uma velha trama do mundo humano para esconder sonhos que não poderiam ser anunciados, por haver uma intenção maculada pelo desejo de poder. Ademais, no novo mundo existiam coisas piores do que não ter um sobrenome. Dado que o despertar da nova aurora não considera nomes de estranhos. Esses são definidos por não estarem de acordo com uma determinada organização, com uma determinada ordem. Aliás, o anúncio dos novos tempos inclui o sonho de pureza que impele a destruição do impuro que não pode ser enquadrado. Para surpresa de nossa personagem, ela era uma estranha não apenas por não ter um sobrenome, mas principalmente por não ter posses para garantir seu lugar. Houve épocas que lugares eram garantidos para a vida pós morte. Por sua vez, no tempo de Inaiê, era necessário estabelecer propriedades para garantir uma vida mundana e feliz. Esse era o anúncio dos novos tempos.
Diante de tudo isso, o despertar do pensamento em Inaiê foi inquietante e doloroso. Não bastaria mais adquirir um sobrenome, era necessário ter algo mais. Por esse motivo, Inaiê precisava lançar-se ao mundo, em um voo solitário, sem saber o que encontrar e o que fazer.
Inaiê não era a única, já que no novo mundo, o humano passou a ser a designação de seres individualizados, na maioria solitários, o bem da coletividade era digno se estivesse de acordo com os prazeres da individualidade. Até mesmo a salvação da alma estava sobre esse jugo. Contudo, a história de Inaiê estava por começar diante do lampejo do despertar do pensamento. Demorou, mas o chamado de sua natureza a levou para um voo solitário. Por ora, a questão que fica para nossa personagem e para humanidade é até quando? Além disso, onde a encontraremos?
Carlos Weinman possui graduação em Filosofia pela Universidade do Oeste de Santa Catarina (2000) com direito ao magistério em sociologia e mestrado em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Maria (2003), pós-graduado Lato Sensu em Gestão da Comunicação pela universidade do Oeste de Santa Catarina. Atualmente é professor da Rede Pública do estado de Santa Catarina. Tem experiência na área de Filosofia e Sociologia com ênfase em Ética, atuando principalmente nos seguintes temas: Estado, política, cidadania, ética, moralidade, religião e direito, moralidade e liberdade.