Inaiê: o percurso entre o fascínio e a queda
Quando Inaiê foi despertada, pelo chamado de sua natureza, para o seu primeiro voo, muitos acreditaram que não haveria mais obstáculos. Essa impressão havia atingido do mesmo modo o pensamento da nossa personagem, mas, ao mesmo tempo, sua alma estava inquieta, algo dizia que a jornada não seria tão fácil, por mais bela e singular que fosse.
O percurso de Inaiê pode ser comparado com a beleza do voo da águia, que é capaz de cativar os olhos do espectador a tal ponto de despertar o desejo intenso em alcançar o céu azul. A admiração pelos feitos tende fazer com que as dificuldades do aprendizado e as inúmeras aflições do caminho do filhote até sua maturidade sejam ignoradas, sem contar que nem sempre o clima é favorável. Por esse motivo, a imagem que o espectador guarda para si pode ser apenas um momento que aparece deslumbrante aos olhos, mas não indica a totalidade do percurso da vida da águia e muito menos a cor do firmamento. A imagem capturada em um momento constitui uma visão parcial e não é capaz de descrever a grandiosidade dos fatos e nem mesmo as dificuldades.
Todo caminho apresenta imperativos. Na jornada de Inaiê, o desafio era ir até o mundo dos estranhos. Embora fizesse parte desse universo, não havia encontrado a sua identidade. Os olhares sobre ela estabeleciam a sentença sobre o lugar que ela deveria estar, que era o mundo daqueles que não poderiam ser encaixados. Esse fato dificultava o seu percurso, pois não conseguia encontrar a beleza da estranheza que faziam parte do seu ser. O medo era um dos principais sentimentos que a impediam de sair do chão, não tinha coragem para abraçar o diferente e o conceito de beleza estava alicerçado no equívoco do olhar daqueles que definem quem são os estranhos.
Contudo, Inaiê já havia começado sua jornada e necessitava encontrar, em pleno voo, o seu caminho. Para tanto, era imprescindível encontrar a sua identidade que estava ofuscada por definições, mesmo não tendo um sobrenome. Por isso, o firmamento não parecia ser azul, os ventos eram fortes. Para complicar, sua projeção estava sendo marcada por uma tempestade que não terminaria antes de encontrar a si mesma.
Em plena tempestade, um lampejo do despertar do pensamento possibilitou o continuar da jornada. Inaiê descobrira que sua identidade não poderia ser encontrada se não prestasse atenção nas relações com seus semelhantes, pois o humano por mais sozinho que esteja não pode ter uma identidade se não for nas relações.
Em contrapartida, Inaiê chegou ao dilema sobre como os estranhos podem encontrar a si mesmos se ignoram o fato que até mesmo na negação estabelecem contatos uns com os outros. A perplexidade desse impasse arrebatou o espírito da nossa personagem, a dúvida passou a ser a única certeza. Entre os questionamentos, surgiu a indagação se a humanidade estaria perdida na individualidade e na negação da diferença. Nesse momento, Inaiê teve a sua primeira queda, seus olhos se fecharam por alguns minutos para suportar a dor que pairava sobre seu corpo, enquanto sua mente não conseguia compreender o que estava acontecendo.
Carlos Weinman possui graduação em Filosofia pela Universidade do Oeste de Santa Catarina (2000) com direito ao magistério em sociologia e mestrado em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Maria (2003), pós-graduado Lato Sensu em Gestão da Comunicação pela universidade do Oeste de Santa Catarina. Atualmente é professor da Rede Pública do estado de Santa Catarina. Tem experiência na área de Filosofia e Sociologia com ênfase em Ética, atuando principalmente nos seguintes temas: Estado, política, cidadania, ética, moralidade, religião e direito, moralidade e liberdade.