Kaingang celebram um ano da retomada Fãg Tēntūn em Campo Bom (RS)


Nos dias 29 e 30, a comunidade Kaingang realizou um encontro especial para marcar o primeiro ano da retomada Fãg Tēntūn, em Campo Bom (RS). O evento reuniu indígenas, apoiadores, entidades parceiras, autoridades, professores universitários e estudantes da rede pública, em um espaço de celebração, resistência e reafirmação cultural.
A retomada da terra foi lembrada como um marco de luta e espiritualidade. O encontro contou com momentos de ritualização da vida, práticas culturais, religiosas e alimentares próprias do povo Kaingang, reforçando a importância da preservação de seus modos de existir e de transmitir saberes ancestrais.

Além da dimensão cultural, o encontro também foi espaço de reflexão sobre os direitos constitucionais indígenas e os desafios impostos pela atual conjuntura política. Entre eles, destaca-se a lei 14.701/2023, que institui o chamado “marco temporal” e cria obstáculos ao reconhecimento e usufruto das terras tradicionais. Também foram apontadas as dificuldades enfrentadas em relação à saúde, à educação e a outras políticas públicas que deveriam atender as comunidades indígenas, mas que frequentemente lhes são negadas.

O evento foi dividido em dois momentos. O primeiro contou com a participação dos convidados externos, que puderam conhecer aspectos da cultura Kaingang e dialogar sobre a realidade vivida pelos povos originários. O segundo reuniu indígenas de outras áreas da região metropolitana de Porto Alegre, da Serra e do Vale do Taquari, fortalecendo alianças, celebrando conquistas e renovando a união para enfrentar os desafios políticos e jurídicos que envolvem a luta pela terra.

O encontro encerrou-se com a reafirmação da solidariedade entre comunidades indígenas e apoiadores, destacando a importância da resistência coletiva frente às tentativas de retirada de direitos.

A presença Kaingang em Campo Bom

Durante o encontro, duas fotos expostas em um banner chamaram a atenção. São registros históricos datados entre os anos de 1926 e 1931, que revelam a presença do povo Kaingang no município de Campo Bom (RS). Elas documentam não apenas a existência indígena nesse território, mas também a forma como as comunidades mantinham sua organização social, seus modos de vida e suas tradições, mesmo diante das pressões da colonização e das políticas de apagamento cultural.

Esses registros são testemunhos da memória viva Kaingang em Campo Bom. Eles desconstroem a narrativa de ausência indígena e reafirmam que a presença originária antecede e atravessa a história do município. Ao mesmo tempo, reforçam a legitimidade das atuais retomadas e lutas territoriais, que dão continuidade ao vínculo histórico e espiritual do povo Kaingang com essas terras.
Porto Alegre (RS), 29 de agosto de 2025.
Cimi Sul – Equipe Porto Alegre.
