O compromisso da Educação (e dos Educadores) em tempos de Geração Alpha
A geração Alpha, composta por pessoas nascidas a partir de 2010, cresce em um mundo intensamente digitalizado e globalizado, onde as mudanças tecnológicas, sociais e ambientais ocorrem em um ritmo acelerado. Criada em um ambiente de acesso constante à internet e a dispositivos inteligentes, essa geração está diante de oportunidades inéditas, mas também de desafios complexos.
A dissonância cognitiva é um exemplo disso. Caracterizada pelo mal-estar provocado pelo conflito entre o que uma pessoa pensa, o que sente e o que faz, pode ser exemplificada com a seguinte situação fictícia (mas que vem acontecendo com frequência): eu sou contra a violência porque ela fere as pessoas, mas fui violento com meu amigo porque ele tem posições políticas diferentes das minhas.
Quem já não presenciou uma situação dessas? Sim, cada vez mais vemos pessoas recorrendo ao autoconvencimento e inventando razões ou justificativas para apoiar decisões, opiniões ou atos inconsequentes. No Brasil, mas também em grande parte do mundo, a dissonância cognitiva tem desempenhado um papel significativo ao justificar conflitos, polarização política e até atos de terrorismo. Não raras vezes, indivíduos de diferentes espectros ideológicos justificam suas ações e crenças, mesmo diante de evidências contrárias, o que tem levado à radicalização e à legitimação de comportamentos extremos, como atos de violência e destruição do patrimônio público, sob a justificativa de defender uma causa maior ou combater um suposto inimigo.
Essa dinâmica contribui para crescentes tensões e divisões, dificultando o diálogo e a busca por soluções consensuais.
Nesse contexto, o papel da educação vai além da formação técnica: ela precisa desenvolver nos jovens e, sobretudo, na geração Alpha, valores éticos, responsabilidade social e capacidade de convivência com a diversidade.
Ou seja, deve se basear em pilares que capacitem as novas gerações não apenas para o mercado de trabalho, mas para o exercício da cidadania e para o enfrentamento dos desafios globais. Bem como promover o desenvolvimento do pensamento crítico, ensinando os indivíduos a avaliarem informações de forma objetiva, a questionarem suas próprias crenças e a considerarem diferentes perspectivas, o que reduz a tendência de buscar apenas informações que confirmem suas opiniões pré-existentes.
Ao expor os alunos a diversas culturas, histórias e pontos de vista, a educação pode fomentar empatia e compreensão, reduzindo a polarização e a intolerância, o que ajuda a construir uma sociedade mais inclusiva e menos propensa a conflitos extremos. A educação também pode estimular a resolução pacífica de conflitos e a comunicação eficaz, capacitando os indivíduos a enfrentarem desacordos de maneira construtiva e a buscarem soluções colaborativas em vez de recorrerem à violência ou à autojustificação.
Ao fornecer uma base sólida em ética e moralidade, a educação pode ajudar os indivíduos a tomarem decisões mais informadas e conscientes, diminuindo a necessidade de justificar ações contraditórias. Outrossim, em um mundo saturado de informações, é imprescindível estimular os alunos a distinguirem fontes confiáveis e não confiáveis, a reconhecer vieses e a consumir informações de maneira mais crítica e reflexiva. Esses elementos combinados podem reduzir a incidência de dissonância cognitiva e promover uma sociedade mais equilibrada e harmoniosa.
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Ao equipar os indivíduos com ferramentas cognitivas e emocionais para lidar com informações conflitantes, a educação contribui para a construção de um ambiente social mais compreensivo e menos propenso a divisões e extremismos. Assim, a educação preparará essa geração para atuar como agentes de transformação, capazes de construir uma sociedade mais justa, sustentável e ética, onde o conhecimento e a inovação sejam ferramentas para o bem comum.
Contudo, esse ambiente dinâmico também exige de nós, educadores, uma postura crítica e reflexiva, capaz de integrar essas variáveis complexas de forma coerente e produtiva. Isso significa que devemos estar atentos à maneira como justificamos nossas ações e crenças, especialmente ao lidar com novos conceitos e práticas que podem inicialmente parecer desconfortáveis ou desafiadores. Mas, para que isso aconteça, nós, professores, temos que estar mais do que nunca conscientes e preparados para essa abordagem e para a diversificação de metodologias que dêem conta dos conteúdos formais e dessas variáveis.
Diante disso tudo, como você se sente?
Atento ao que vem acontecendo em nosso mundo? Preparado para encarar a sua mudança de postura? Inerte? Ou assustado? É bom pensar nisso, pois essa é uma realidade do hoje, que não vai te pedir licença e pode te atropelar.
Professora no Instituto Federal Catarinense (IFC). Fez doutorado e pós-doutorado em Educação Científica e Tecnológica (UFSC). Tem se movido em problematizar as implicações sociais da tecnociência, almejando provocar parcerias e compartilhamentos entre sujeitos que se veem provocados a mudar de rota o processo civilizatório, em busca da maximização da dignidade humana.
Consultora, possui Doutorado em Educação Cientifica e Tecnológica, Mestrado em Educação, Graduação em Serviço Social, Graduação em Pedagogia. Estuda as implicações sociais da Ciência e da Tecnologia, no intuito de debater sob uma perspectiva crítica, a equação civilizatória contemporânea e fomentar uma postura reflexiva, sobretudo na área da educação.
Engenheiro mecânico e doutor em educação na área de ciências. Desenvolve seus estudos em Educação Tecnológica com ênfase no processo civilizatório contemporâneo e nas relações entre ciência, tecnologia e sociedade (CTS). Professor Titular do Departamento de Engenharia Mecânica e do Programa de Pós-Graduação em Educação Científica e Tecnológica (PPGECT) da UFSC. Um dos fundadores do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação Tecnológica (NEPET - nepet.ufsc.br) é o seu atual coordenador