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Participação no Encontro da Pastoral Indigenista do Regional Sul 4 da CNBB, realizado em Florianópolis

Participação no Encontro da Pastoral Indigenista do Regional Sul 4 da CNBB, realizado em Florianópolis

Ivan Cesar Cima
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31 de janeiro a 02 de fevereiro de 2025.

 

O encontro contou com a participação de agentes das Dioceses e Arquidioceses de Chapecó, Joinville, Florianópolis, Rio do Sul e Blumenau. O momento foi dedicado à análise de conjuntura e para avaliação das atividades realizadas em 2024 e planejamento para o ano de 2025.

Foto: Arquivo Cimi Sul.

No sábado, dia 01, foi realizada visita a uma das aldeias da Terra Indígena Morro dos Cavalos. Momento importante para vivenciar o contexto de vida da comunidade e dialogar acerca das lutas cotidianas por terra, vida e dignidade.

Foto: Arquivo Cimi Sul.

O encontro contou com a presença animadora e comprometida de Padre Antônio, Secretário Executivo do Regional Sul 4.

Foto: Arquivo Cimi Sul.

O próximo encontro será realizado na Arquidiocese de Chapecó, em fevereiro de 2026.

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É UMA PENA!

Marlete Cardoso

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Joinville (SC), janeiro/fevereiro de 2025.

Texto criado para o 3º Encontro Regional da Pastoral Indigenista.

A história que agora vou contar, me foi contada por um beija-flor. Há muito tempo, lá pelo ano 1500, existia em todas as regiões desse lugar que hoje chamamos Brasil, uma grande quantidade de pássaros. Eram muitas aves mesmo! De cores, cantos, tamanhos, costumes e modos de viver diferentes. Mas em uma coisa eles eram iguais: sabiam respeitar o céu que os acolhia. Cada um deles era conhecido e chamado por seu nome pelo Pai dos Pássaros, que estava sempre junto, mas raramente aparecia, porque não havia necessidade. Já que todos haviam aprendido a respeitar a vida. Eles se arranjavam com o que sabiam e sentiam. Havia muita água, comida, sol e sombra, silêncio e som na intensidade certa para seus cantos. E havia um vento doce na medida ideal de suas asas. Alguns grupos alados gostavam do litoral e viviam à beira do mar, sem pressa como as ondas. Outros preferiam as montanhas e outros ainda a floresta densa. Em suas revoadas, eles nem queriam saber se estavam no céu deste ou de outro país. O que importava era voar, ser feliz e livre, como recomendou o Pai. Então, um dia, num final da tarde, quando a maioria já estava se recolhendo às suas árvores preferidas, eles viram chegar pelo céu, algo que parecia enorme gaiola com asas. Com a respiração suspensa, até os filhotes ficaram quietos. Assim que a gaiola foi aberta, de olhos arregalados eles viram! Lá de dentro saíram voando, com dificuldade a princípio, uns pássaros estranhos. De tamanhos parecidos, com bicos, penas, pernas e asas. Mas então eram diferentes em quê? Custaram a perceber, mas estava no olhar. Tinham no olhar algo que os pássaros originários não sabiam identificar pois não conheciam. Era como uma sede que nunca acaba, uma avidez por tudo. Cansados e parecendo doentes, logo avistaram o rio e lhe deram um nome e um dono, depois beberam água sem prestar-lhe atenção. O rio quis correr mais rápido. Voaram sobre as copas das árvores determinando quem deveria ficar em cada uma delas. Ao vento, que distraído, vinha passando, começaram a inquirir sobre o tamanho do céu e a frequência das chuvas. O vento achou estranho aqueles piados com sotaque diferente, e ia responder, mas mudou de ideia e fez de conta que não entendia. E atravessando suas penas malcuidadas e malcheirosas, tratou de ventar em outro lugar. As aves originárias da região, paradas e quietas a tudo observavam sem entender de onde haviam surgido passarinhos tão esquisitos e primitivos. Então, fizeram uma assembleia e decidiram ajudar os visitantes. Ficaram com pena pois os que chegaram ignoravam tudo sobre a natureza e pareciam não conhecer nem as lições do Pai dos Pássaros. Naturalmente nem todos os grupos concordaram em fazer contato, pois tiveram medo. Estes então, voaram e foram se isolar em regiões bem distantes. O convívio entre eles, a princípio foi amigável, porque os viajantes logo compreenderam que tinham muito para aprender sobre este novo céu com quem já morava ali. Mas quando se sentiram seguros, começaram a exigir que aqueles lhes trouxessem comida e água fresca, não queriam mais voar, tendo que ser carregados nas costas, e nem os próprios ninhos eles faziam. E ainda desrespeitavam as passarinhas. Parece que não aprendiam, e por não acreditar no Pai dos Pássaros, nunca conseguiam soltar suas penas velhas, ficando muito feios. Depois daquela primeira gaiola gigante, vieram outras, e mais aves agressivas chegaram mudando o ar, a água, os filhotes… E em pouco tempo, podiam-se ver milhares de penas ensanguentadas que começaram a pairar no ar e cair na terra, nas matas e nas águas. Hoje, passados mais de quinhentos anos, há apenas uma pequena parte da grande variedade de aves que existiam aqui, mas elas ainda gostam de fazer as coisas do seu jeito e continuam resistindo. Decididos, largam suas penas e passam a mensagem de simplicidade e confiança no Pai dos Pássaros. Quando você encontrar uma pena, não duvide, é de uma ave originária que continua entre nós, pois acredita na terra sem mal, onde um novo céu de amor e liberdade é possível a todos os pássaros e criaturas.

Confira mais imagens:

Foto: Arquivo Cimi Sul.
Foto: Arquivo Cimi Sul.
Foto: Arquivo Cimi Sul.