Economia da Atenção: da monetização ao desequilíbrio emocional e social
Vivemos um paradoxo. Nunca na história da humanidade tivemos tanta informação, comunicação e entretenimento disponíveis, e por outro lado, nunca tivemos uma capacidade de discernimento tão reduzida; haja vista que tais possibilidades, não só capturam nossa atenção, como impactam nossas percepções, experiências e expectativas.
Uma forma de entender melhor essa contradição é analisar quanto tempo passamos diariamente consumindo conteúdo direcionado, sobretudo nas redes sociais. Outra forma, é observar a competição gerada entre marcas e influenciadores para atrair nossa atenção e nos tornar usuários daquilo que eles representam (naquele momento). E como as plataformas atuam e desenvolvem algoritmos cada vez mais eficientes para nos mostrar apenas aquilo que, supostamente, nos interessa.
Segundo o relatório Digital in 2017 Global Overview, o Brasil está classificado entre os primeiros países que gastam mais horas na Internet, atingindo uma média diária de 8h56min de conexão, sendo cerca de 4h59min em computadores, 3h56min em celulares e 3h43min em redes sociais.
Mas essa lógica não está restrita apenas ao ambiente digital. Ela está em todas as esferas de mercado – supermercados, farmácias, outdoors, bussdoors, pontos de ônibus, comerciais de TV – porque, as marcas não ficam mais restritas aos seus respectivos nichos, mas dispersam-se em um território onde disputam ideias, tendências e a atenção do usuário.
E, isso tudo faz parte da “Economia da Atenção”.
Esse termo foi cunhado pela primeira vez em 1971 pelo economista, psicólogo e cientista político, Herbert Alexander Simon, que explicou como a atenção pode ser capitalizada e tratada como uma mercadoria.
Em meados da década de 1990, essa noção foi retomada de forma mais enfática por uma série de teóricos, sob o argumento de que estaríamos transicionando de uma lógica monetária para uma lógica atentiva.
Ou seja, para esses teóricos a atenção dos consumidores estaria se tornado a principal moeda da nossa sociedade. Isso porque, a atenção é um recurso e as pessoas possuem quantidades limitadas dele.
Assim, a Economia da Atenção estaria se consolidando como uma das principais tendências da sociedade contemporânea. E a expectativa é que nos próximos anos cresça ainda mais. Afinal, o número alto de informações que nos cercam, não nos permitem apreender tudo. Portanto, é a atenção que seleciona a parte mais relevante de uma informação, a filtra e deixa que os detalhes irrelevantes sejam deixados de lado (as vezes com alguns relevantes junto).
Diante disso, é importante acender um alerta para um outro aspecto importante – a “privação da liberdade de atenção” – que é gerada pela insistente, sedutora e “inocente” exigência de conectividade permanente, mas que traz desafios complexos aos nossos modos de ser e viver em sociedade.
O constante uso das redes sociais e plataformas digitais, por exemplo, têm trazido diferentes formas de sofrimento, angústia e patologias. Além da comparação constante e da necessidade de se mostrar ao outro, as redes sociais costumam criar uma falsa ideia de perfeccionismo, o que causa sofrimento à algumas pessoas e induz outras a perseguir um “padrão postável”.
Além dos problemas relacionados à saúde mental, o tempo cada vez maior no digital tem gerado graves distúrbios de concentração e falta de foco. E, para além das questões individuais, existem processos históricos, sociais, culturais e políticos envolvidos e, que impactam a vida em sociedade.
Portanto é urgente refletirmos sobre os caminhos que desejamos trilhar e os pontos para os quais devemos direcionar nossa atenção e energia. Afinal, para quem não sabe para onde quer ir, qualquer caminho serve a há muita gente interessada na nossa decisão.
Professora no Instituto Federal Catarinense (IFC). Fez doutorado e pós-doutorado em Educação Científica e Tecnológica (UFSC). Tem se movido em problematizar as implicações sociais da tecnociência, almejando provocar parcerias e compartilhamentos entre sujeitos que se veem provocados a mudar de rota o processo civilizatório, em busca da maximização da dignidade humana.
Engenheiro mecânico e doutor em educação na área de ciências. Desenvolve seus estudos em Educação Tecnológica com ênfase no processo civilizatório contemporâneo e nas relações entre ciência, tecnologia e sociedade (CTS). Professor Titular do Departamento de Engenharia Mecânica e do Programa de Pós-Graduação em Educação Científica e Tecnológica (PPGECT) da UFSC. Um dos fundadores do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação Tecnológica (NEPET - nepet.ufsc.br) é o seu atual coordenador
Consultora, possui Doutorado em Educação Cientifica e Tecnológica, Mestrado em Educação, Graduação em Serviço Social, Graduação em Pedagogia. Estuda as implicações sociais da Ciência e da Tecnologia, no intuito de debater sob uma perspectiva crítica, a equação civilizatória contemporânea e fomentar uma postura reflexiva, sobretudo na área da educação.