Mulheres denunciam cenário de violências e camponesas alertam: Perdemos muitas sementes com a seca e o governo genocida
Durante a mobilização do 8 de março em São Miguel do Oeste/SC, foram realizados momentos com intervenções e místicas denunciando as violências do capital contra a classe trabalhadora explorada, especialmente as violências contra as companheiras mulheres.
O Movimento de Mulheres Camponesas denunciou, em frente ao Banco do Brasil do município, os projetos que atacam as camponesas, as queimadas na Amazônia que afetam o Sul do Brasil e ocasionam um cenário maior de seca. Foram expostos pés de milho secos, cuja produção não se desenvolve pelo cenário de devastação. Também evidenciaram como as sementes crioulas não puderem ser multiplicadas no último período.
A Pastoral da Juventude do Meio Popular e Rural também construiu sua mística a partir da denúncia de inúmeras violências do capital, do estado brasileiro e outras violências que são silenciadas, como a doméstica, psicológica, política, moral, os assédios sexuais entre outras, além de destacar as correntes que ainda aprisionam, especialmente as mulheres negras, indígenas, quilombolas. Também se ressaltou a situação das mães que, sozinhas, sem assistência, tomam atitudes que acabam sendo condenadas pela sociedade, quando o sistema deveria ser. Nesse exemplo, se trouxe presente o que uma mãe fez, deixando um bebê dentro de uma caixa de papelão no primeiro dia do mês de março, em Palhoça, Florianópolis/SC, pedindo socorro para que cuidassem dela.
As mulheres deste coletivo também mencionaram a terra mãe e denunciaram a prática do estupro, dos abusos cometidos dentro e fora das organizações sociais. Outras situações foram evidenciadas, como a das mulheres com deficiência, que sofrem todos os dias com apontamentos, xingamentos, assédios de vários tipos, sendo consideradas bêbadas e descartáveis. Além disso, evidenciou-se a situação das mulheres brasileiras que precisam abraçar seus filhos mortos pela violência da política, do estado opressor brasileiro.
Ao andar da marcha pelas ruas de São Miguel do Oeste, as mulheres do Movimento de Mulheres Trabalhadoras Urbanas (MMTU), do coletivo sindical e partido político de esquerda, realizaram a leitura do manifesto, documento guia, construído nacionalmente, para a luta do 8 de março. Com panelas vazias nas mãos e ossos no chão, denunciou-se mais uma vez a fome e a estrutura do governo genocida de Bolsonaro e seus aliados.
Outra intervenção feita a partir do coletivo de organizações do município de Anchieta/SC, denunciou o “capital em guerra”, mencionando diversas pautas que representam a tentativa de extermínio dos povos e das gentes empobrecidas.
A mobilização encerrou-se próximo do meio dia, com o retorno das companheiras e companheiros para seus lares e espaços de vida, acompanhadas/os de gritos de ordem e Bolsonaro Nunca Mais.
Sementes Crioulas e a seca
A militante do Movimento de Mulheres Camponesas, Noemi Margarida Krefta, que reside em Palma Sola mas participou do ato em São Miguel do Oeste, alertou sobre a perda de variedades das sementes crioulas pela conjuntura de desmonte dos direitos e políticas públicas para o campo. “É claro que sentimos alegria de certa forma, de voltar às ruas no 8 de março, por outro lado, nos sentimos indignadas de ter que reivindicar mais uma vez nossos direitos básicos à vida. A agricultura familiar e camponesa está pedindo socorro. Não se pode aguentar a manutenção das nossas lavouras em tempo de seca e pandemia, sem ter política pública. Não temos nenhum auxílio emergencial, nenhum crédito para renovar nossas sementes, perdemos muitas delas e o impacto é imensurável”, destacou.
Material de denúncia:
Ainda nas ruas de São Miguel do Oeste, as mulheres distribuíram um material impresso, contendo as seguintes informações:
8 de março, nas ruas!
Por um Brasil sem machismo, racismo e fome.
Pela vida das mulheres: Bolsonaro NUNCA MAIS!
Ao longo da história as mulheres trabalhadoras vem protagonizando inúmeras lutas por direitos e melhores condições de vida. Vivemos em uma sociedade baseada nas relações capitalistas, patriarcais e racistas que nos exploram, oprimem e discriminam. Isso nos coloca em marcha neste 08 de março – dia que marca a luta e a resistência das mulheres trabalhadoras no mundo. Saímos às ruas, pois a miséria entre nós da classe trabalhadora explorada só cresceu, sentimos na pele o aumento da violência contra mulheres, jovens e LGBTs. A fome tornou-se cotidiana devido a carestia da vida que se expressa nos preços absurdos dos alimentos, do gás, da água e da energia. Passamos a ver cada vez mais pessoas buscando comida no lixo e disputando ossos e carcaças nos açougues para alimentar suas famílias, além de todo sofrimento diante dos impactos das mudanças climáticas, em razão da destruição da natureza provocado pelo avanço do agronegócio, tendo como uma das consequências a forte seca, que vem se alastrando há mais de três anos em nossa região.
Por isso neste 8 de março denunciamos:
- Uma mulher é morta a cada duas horas em nosso país, sendo 66% destas mulheres negras;
- O Brasil é o país que mais mata mulheres trans e travestis no mundo e 6 mulheres lésbicas são estupradas por dia;
- A violência contra as mulheres com deficiência cresceu 67,9% durante a pandemia;
- A violência obstétrica ou seja, todos os tipos de violências que ocorrem no pré-natal, parto, pós-parto e aborto – atinge uma em cada quatro mulheres no nosso país; dessas, 65,9% são negras;
Frente a tantas violências, bradamos: não somos números, somos vidas!
Essa realidade de sofrimento do povo brasileiro é resultado do desmonte de toda estrutura relacionada à saúde e a falta de políticas públicas voltadas para a produção de alimentos, e dos investimentos em um sistema econômico direcionado aos ricos, numa lógica conservadora, que coloca as mulheres, as juventudes e os empobrecidos como inimigos. Esse cenário se reflete na volta do Brasil ao mapa da fome. Somos milhões de brasileiras/os que não sabem se terá alimento na mesa no dia seguinte. O negacionismo do governo sob a ciência levou a milhares de mortes por COVID-19 e outros milhões ao desemprego, A política de Bolsonaro e seus aliados é voltada para morte, por isso, quem se junta à ele ou o defende, é cúmplice desses resultados. Nós não compactuamos com esse estado de genocídio, por isso:
Chega de opressão e exploração!
Gritamos:
- Por soberania e segurança alimentar e nutricional e pela agroecologia no campo e nas cidades!
- Contra o racismo que explora e o genocídio que mata todos dias as mulheres e suas/seus filhas/os!
- Abaixo a fome, a pobreza e a carestia: por uma vida digna para todas/os!
- Chega de Violência no Campo!
- Em defesa da Amazônia, do Cerrado e da Caatinga!
- Contra a PL do Veneno!
- Em defesa das políticas públicas para as mulheres dos campos, das águas, das florestas e das cidades: contra todo retrocesso e perda de direitos!
- Por emprego, salário e direitos iguais para trabalho igual!
- Legalização do aborto: educação sexual para prevenir, contraceptivo para não engravidar, aborto legal seguro, gratuito e garantido pelo SUS para não morrer!
- Romper com a divisão sexual e racial do trabalho é urgente!
- Pela revogação de todas as privatizações, das Reformas Trabalhistas e da Previdência e pelo fim do Teto dos Gastos!
- Contra a privatização da saúde: Por um SUS 100% estatal, público e de qualidade!
- Não à dupla jornada das mulheres: Creches e escolas em tempo integral para nossas/os filhas/os; lavanderias e restaurante públicos!
- Pela quebra das patentes das vacinas!
Chega da política machista, racista e genocida deste governo.
Chega de silêncio, não aceitamos abusos!
BOLSONARO NUNCA MAIS!
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Assista a intervenção que denunciou as várias expressões de violência contra mulher:
Jornalista, militante da Pastoral da Juventude do Meio Popular (PJMP).