Ara Poty: hortas agroecológicas e a resistência Guarani
As hortas agroecológicas, coletivas e comunitárias, estão sendo construídas na região de Chapecó, no Oeste catarinense, junto ao povo Guarani, para garantia da alimentação das famílias que estão ainda mais vulneráveis desde o início da pandemia do novo coronavírus, causador da covid-19. O trabalho de construção das hortas foi realizado pelos Guarani, com apoio do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), da Região Pastoral Nordeste – Paróquia Santo Antonio e da Epagri do município. São 18 famílias, com aproximadamente 60 pessoas, que estão diariamente trabalhando no cultivo de hortaliças. Nesse espaço é cultivado alface, repolho, brócolis, almeirão, chicórias, dentre outras variedades.
Toda produção, segundo o cacique Raimundo Ortega, é organizada sem o uso de veneno e com técnicas que são fundamentais para o manejo e cuidado com a terra. “É importante para a gente ter essa horta e produzir os alimentos sem veneno. A gurizada também está aprendendo, nunca tivemos chance de fazer isso e ver que a comida pode ser produzida aqui, tudo pronto, dentro da aldeia mesmo”.
As hortas agroecológicas, coletivas e comunitárias, estão sendo construídas na região de Chapecó, no Oeste catarinense, junto ao povo Guarani, para garantia da alimentação das famílias que estão ainda mais vulneráveis desde o início da pandemia do novo coronavírus, causador da covid-19. O trabalho de construção das hortas foi realizado pelos Guarani, com apoio do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), da Região Pastoral Nordeste – Paróquia Santo Antonio e da Epagri do município. São 18 famílias, com aproximadamente 60 pessoas, que estão diariamente trabalhando no cultivo de hortaliças. Nesse espaço é cultivado alface, repolho, brócolis, almeirão, chicórias, dentre outras variedades.
Toda produção, segundo o cacique Raimundo Ortega, é organizada sem o uso de veneno e com técnicas que são fundamentais para o manejo e cuidado com a terra. “É importante para a gente ter essa horta e produzir os alimentos sem veneno. A gurizada também está aprendendo, nunca tivemos chance de fazer isso e ver que a comida pode ser produzida aqui, tudo pronto, dentro da aldeia mesmo”.
Os Guarani de São Miguel das Missões
A área onde localiza-se a horta comunitária e coletiva pertence à Terra Indígena Toldo Chimbangue, em Chapecó, e foi cedida pelos Kaingang. O local, por alguns anos, foi morada de outros Guarani, com cerca de 30 famílias, que reivindicam a demarcação da Terra Indígena Araçaí. Esse grupo reside ainda no Toldo Chimbangue. No início deste ano o local foi ocupado pelas 18 famílias que vieram do município de São Miguel das Missões/RS, terra de Sepé Tiaraju, referência histórica que liderou os Sete Povos das Missões e lutou na defesa de seu povo contra o Tratado de Madri e o assassinato Guarani.
Os Guarani, que viviam em São Miguel das Missões, habitavam uma área comprada ainda pelo governo de Olívio Dutra, no início dos anos 2000. Por ser uma cidade histórica, a presença não indígena sempre foi constante e nos últimos anos, segundo as lideranças indígenas, têm interferido sistematicamente na vida e cultura dos Guarani. A necessidade de manter a cultura foi uma das razões que levou o grupo de 18 famílias a buscarem por outro local e construírem nova morada. Em Chapecó, as famílias foram recebidas em janeiro deste ano e segundo o cacique Raimundo Ortega, a primeira casa a ser feita foi a casa de reza, a Opy.
Comida de verdade, a flor do dia e o sinal de esperança
Esse começo de morada não foi fácil para os Guarani. Além da pandemia, no mês de julho, mais de 15 barracos foram destruídos pelo tornado que atingiu grande parte dos municípios da região. O frio também se apresentou como inimigo, as temperaturas, naquele mês, chegaram a 2ºC.
Num cenário de extrema vulnerabilidade, alguns projetos fazem a diferença e contribuem para a manutenção das famílias, como as hortas comunitárias. No Brasil da antipolítica indígena, praticada por parte do governo e com toda a militarização que ocorreu desde que Jair Bolsonaro foi eleito presidente, a solidariedade indica a possibilidade de dias melhores. As hortas representam, neste momento, um sinal de esperança para os Guarani que batizaram o lugar de Ara Poty, que significa: Flor do Dia, em homenagem a anciã Miguela Escobar, de 76 anos.
A ideia das hortas comunitárias, segundo o membro da coordenação do CIMI Sul, Jacson Santana, surgiu por meio de diálogos feitos com lideranças Kaingang no norte do Rio Grande do Sul, ainda no ano passado, nas Terras Indígenas de Rio dos Índios, no município de Vivente Dutra e Passo Grande do Rio Forquilha, nos municípios de Cacique Doble e Sananduva. “As hortas são fundamentais e possibilitam momentos de mutirão, de reunir a comunidade em torno da produção, mas também do diálogo sobre a produção sem veneno, da garantia de uma saúde de qualidade. Então, organizar a horta significa fazer dos acampamentos, espaços de cultivo e debate, garantem o acesso da comunidade à outras atividades com temas transversais”, disse.
Jacson detalhou que existem mais espaços no Oeste do estado de Santa Catarina onde as hortas comunitárias foram organizadas: duas na Terra Indígena Xapecó, em Ipuaçu, outra na Aldeia Kondá, um horto medicinal na Terra Indígena Toldo Chimbangue, com organização dos Kaingang, além das duas hortas junto aos Guarani, também no Toldo Chimbangue.
Acompanhamento
A Extensionista Social da Epagri de Chapecó, Josefina A. N. De Carvalho, contextualiza sobre como é feito o trabalho de acompanhamento do cultivo. “Como já temos experiência de trabalho coletivo com outros grupos de indígenas e acompanhando a condição precária que estas famílias estão vivendo neste espaço, sem renda, sem condições dignas de alimentação, sendo que no momento estão se alimentando de doações sem ainda ter o que consumir pelo pouco tempo que vivem neste local. Foi pensando nisso, que surgiu a ideia de construirmos uma horta coletiva para produzir o mínimo de alimentação para o consumo destas famílias”.
Os primeiros passos foram dados com o preparo do espaço, com aragem do terreno, aquisição de material para fechar a horta, adubação, irrigação, compra das sementes e mudas, preparo dos canteiros, e plantio. Depois disso, ocorreu a escolha das hortaliças a serem cultivadas. “Tudo foi feito através de conversas com lideranças indígenas para sabermos o gosto de consumo deles e algumas foram sugestões nossas para podermos resgatar algumas variedades mais rústicas que já faziam parte da cultura indígena”.
Josefina disse que a ideia é implantar também um jardim e um pomar de citrus e frutas nativas, plantio de mandioca, batata doce, abóboras, porongos e espojas, por exemplo. “Planejamos também com o tempo, melhorarmos a qualidade e quantidade da água e arredores das casas destas famílias. Com a horta produzindo, pensamos em fazer oficinas de aproveitamento destes alimentos produzidos, fazendo a troca de conhecimentos”.
No contexto da pandemia, Josefina sinalizou que a equipe técnica tem feito apenas algumas visitas agendadas com antecedência e com todo cuidado, respeitando as normas do Ministério da Saúde. “As orientações são maiores via telefone e WhatsApp, onde vamos orientando a condução deste projeto e as famílias têm feito um trabalho belíssimo, como pode-se notar nas fotografias”.
Josefina acrescentou ainda que em um dos encontros de orientação, foi feito o cozimento de feijão tropeiro, repassadas informações a respeito do preparo e a utilização do que se está produzido na horta para elaboração desse prato.
Jornalista, militante da Pastoral da Juventude do Meio Popular (PJMP).