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Reflexões cotidianas: Porque precisamos sempre lutar por Reconhecimento?

Reflexões cotidianas: Porque precisamos sempre lutar por Reconhecimento?

Louise Löbler
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  Uma das indagações que mais permeiam minhas inquietações é essa: Porque precisamos sempre lutar por Reconhecimento? Fico me perguntando diariamente. A todo momento minha existência e o existir dos nossos está sendo questionada.

  Ano passado um professor cientista social me apresentou o livro de Axel Honneth, intitulado “A luta por reconhecimento”, publicado em 1992. Baseia-se nas premissas universais do reconhecimento social do filósofo Hegel (Georg W. Friedrich Hegel, 1770 – 1831). Honneth é filósofo e sociólogo alemão, ainda vivo, suas escritas contribuem com chaves importantes para o desdobramento de conceitos e de reflexões para a construção do conhecimento sobre os nossos cotidianos, nossas lutas e conflitos por Reconhecimento. Se vocês não leram, vale a pena.

      Tenho refletido sobre isso tudo, nesse desafio constante de interpretar a realidade e transformá-la. O autor nos chama a atenção dizendo que nossas lutas por Reconhecimento são baseadas nas construções de nossas identidades e que essa ausência do reconhecimento é um ponto de partida para os conflitos sociais, uma vez que nossas identidades são individuais mas são “formadas” coletivamente, através do que o Honneth comenta, em relação ao próximo (amor), na convivência com a comunidade (solidariedade) e na prática social (justiça por direito). Ao longo do livro emergem ideias de justiça social, distribuição equitativa, dignidade e respeito, dentre outros.

       A cada página muitas coisas vão vindo e indo de encontro com as reflexões sobre o estar em constante luta por Reconhecimento. Afirmo isso porque ao longo dos anos essa foi uma bandeira que sempre levantei e que hoje também apoio os demais que lutam por isso. Por mais que por muitas vezes acredito ser até meio ridículo, porque muitas vezes nós realmente não queríamos mais ter que continuar lutando e reivindicando um Reconhecimento que já deveria ser, ter e estar.

       E essa luta continua sendo pauta diária em várias trincheiras, na luta por Reconhecimento dos professores por salários dignos e por uma carreira reconhecida; pelos indígenas, quilombolas e ribeirinhos pela luta do Reconhecimento por Existirem; pelas mães cientistas que são cobradas diariamente por que são menosprezadas por uma parte da sociedade que não acredita que nossos filhos caibam no currículo lattes; pelos trabalhadores assalariados cada vez mais terceirizados e sem direitos, dentre tantos exemplos, todos possuem uma coisa em comum – a luta por Reconhecimento.

          Por fim, aposto que você que leu até aqui, tem algo, alguma coisa, qualquer coisa que lutou para ser Reconhecida em sua vida. Infelizmente muitas de nós somos invisíveis aos olhos de outrém e como diz Gal Costa, “atenção, é preciso estar atento e forte”, isso ainda não terminou. Compartilho aqui um trecho da música:

Atenção ao dobrar uma esquina

Uma alegria, atenção, menina

Você vem, quantos anos você tem?

Atenção, precisa ter olhos firmes

Pra este sol, para esta escuridão

Atenção

Tudo é perigoso

Tudo é divino, maravilhoso

Atenção para o refrão, uau!

É preciso estar atento e forte

Não temos tempo de temer a morte

É preciso estar atento e forte

Não temos tempo de temer a morte

Atenção para a estrofe e pro refrão

Pro palavrão, para a palavra de ordem

Atenção para o samba exaltação

Atenção

Tudo é perigoso

Tudo é divino, maravilhoso

Atenção para o refrão, uau!

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É preciso estar atento e forte

Não temos tempo de temer a morte

É preciso estar atento e forte

Não temos tempo de temer a morte

Atenção para as janelas no alto

Atenção ao pisar o asfalto, o mangue

Atenção para o sangue sobre o chão

É preciso estar atento e forte

Não temos tempo de temer a morte

É preciso estar atento e forte

Não temos tempo de temer a morte

Livro: Luta por reconhecimento: a Gramática Moral dos Conflitos Sociais, de Axel Honneth, Editora 34, 2ª edição, 2009.

Música: Divino Maravilhoso, escrita por Gilberto Gil e Caetano Veloso para Gal Costa interpretar, lançada em 1969, mas foi em 1968 uns dias antes do decreto do AI-5 em plena Ditadura Militar no Brasil que Gal cantou a música no IV Festival da Música Popular Brasileira da TV Record.