Sobre a crueldade do trabalho escravo
Sobre a crueldade do trabalho escravo, promovido por grandes empresas, nos períodos das colheitas de maçãs e uvas na Serra Gaúcha.
Escravagista
Lugar de onde, em função da pele branca, se promove a escravidão, se cria, se busca e se estabelece vantagens e privilégios.
Lugar do opressor, daquele que não se importa com as outras e outros humanos, mas tão somente com a sua lucratividade criminosa.
Lugar do desprezível intolerante, que durante os dias, noites e, mesmo nos seus sonhos, exclui, persegue, agride, mutila e escraviza.
Lugar do racista, que discrimina e faz morrer a criança, o homem e a mulher preta, a quem, com extremo desprezo, trata como servos descartáveis.
Lugar de quem cultua a escravidão, porque dela se beneficia, assim como seus pais o fizeram no passado de colonização horrenda, através da qual deixaram os tentáculos da desumanização que aí está.
Lugar do ganancioso empresário, que contrata o trabalhador negro, indígena, nordestino, o migrante e nega-lhes a dignidade humana, o justo salário, a liberdade e a justiça.
Lugar de quem desmata, queima, expulsa e ocupa todos os espaços das filhas e filhos da Mãe Terra, tão somente para produzir riqueza banhada pelo suor e sangue dos escravizados.
Lugar do invasor, do mais vil perseguidor, que, por um vintém, nega compaixão, promove dor, tortura e assassina.
Escravagista, lugar do ser supremacista, do branco, que não sentiu e jamais sentirá – o corpo rasgado pela dor; nem sentirá a fome, porque se alimenta do trabalho escravo; jamais sentira o flagelo da intolerância racial, porque se sustenta nele.
Porto Alegre, 25 de fevereiro de 2023.
Roberto Antônio Liebgott é missionário do CIMI - Conselho Indigenista Missionário, atuando na região Sul do Brasil.