A arte e a resistência dos Pankararu da Zona Leste de São Paulo
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As famílias indígenas presentes no contexto urbano da Região Metropolitana de São Paulo, cada vez mais se organizam em torno do resgate das suas artes tradicionais, potencializando os artesanatos indígenas e garantindo renda para sobreviverem nas cidades. As famílias dos povos Pankararú, Pankararé, Pataxó, Fulni-ô, Kaimbé, Tupi Guarani, Wassu Cocal se organizam de maneira formativa e conquistam espaços de economia solidária para a comercialização dos artesanatos indígenas.
A Comunidade Urbana Pankararu, localizada no distrito de Sapopemba, zona leste da cidade de São Paulo, é organizada por aproximadamente 50 famílias indígenas.
O povo Pankararu é originário da Terra Indígena Brejo dos Padres, localizada no sertão pernambucano, e estabeleceu uma mobilidade com as periferias de São Paulo, nas décadas de 1960 e 1970, sendo que se instalaram no distrito de Sapopemba, mais especificamente nos bairros do Parque Santa Madalena e Jardim Elba, assim como em outros espaços de São Paulo.
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Na periferia de São Paulo e sem moradias dignas, a Comunidade Pankararu se organizou durante muitos anos na luta por moradias populares, porém, a morosidade na política de moradia foi aos poucos desanimando os indígenas, desmobilizando o movimento, que chegou a fundar uma associação:
“Associação Movimento Indígena Pankararu”. Com a pandemia da covid-19, as famílias pankararu sofreram mais uma violência coletiva, quando não tiveram acesso à vacinação prioritária contra a covid-19, exigindo que as famílias se organizassem em torno da luta pelo direito à saúde indígena, diferenciada e específica. Os desafios para a garantia do direito são básicos, sendo o não cadastramento das pessoas com sua etnia registrada nos sistemas, o primeiro deles. Porém, diante dos questionamentos preconceituosos e que desrespeitam a autodeclaração (“você é índio mesmo?”, “esse cabelo não é de índio!”, ou “você tinha que morar no mato”) a não efetivação dos direitos nos bairros da periferia de São Paulo se insere dentro das lógicas de genocídio, integração e apagamento das identidade e diversidade cultural do nosso país, ainda vigentes.
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Nesse processo de reuniões em torno da luta pelo direito à saúde diferenciada, as lideranças da Comunidade Urbana Pankararu começam a elaborar algumas atividades com as crianças no resgate de artes realizadas pelos pankararu, através de lembranças dos pais, avós e de suas experiências e aprendizados que tiveram na “Aldeia Mãe” – como se referem à aldeia originária, a Terra Indígena Brejo dos Padres -, e passam a construir, com essas crianças, pequenos artesanatos tradicionais do povo pankararu. A partir do trabalho com as crianças, um grupo de mulheres começou a retomar o conhecimento de algumas artes, e a produzirem artesanatos indígenas para serem expostos e vendidos em feiras e exposições de artes indígenas. Além da luta por saúde diferenciada, as lideranças passaram a discutir e reivindicar junto ao poder público espaços para apresentação da cultura e também a exposição e comercialização de seus artesanatos.
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O Cimi Sul, por meio da Equipe São Paulo, em parceria do Instituto das Irmãs de Santa Cruz (IISC) passou a apoiar, neste ano de 2024, o trabalho com as artes indígenas das crianças e mulheres pankararu, na perspectiva de contribuir com o fortalecimento das organizações sociopolíticas dos povos indígenas e de suas práticas tradicionais.
A Comunidade Urbana Pankararu, da zona leste de São Paulo, passou a ter outras frentes de atuação e os trabalhos realizados trouxeram mais engajamento das pessoas no trabalho coletivo, no que é de todos e para todos. A necessidade de complemento de renda e o orgulho da cultura pankararu caminham lado a lado, na mesa da exposição das artes e artesanatos indígenas. Falar o valor para a compra e contar a história sobre como o objeto é feito, para que é usado e o seu valor na prática culinária ou espiritual, fortalece a cultura indígena, a luta, e traz dignidade para o indígena que está distante de sua “Aldeia Mãe”, mas que não deixa de ser indígena.
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